Era 7 de abril de 2025. Coincidentemente (ou não), o Dia do Jornalista. Data de bonitas homenagens, mensagens no WhatsApp e reconhecimentos ao nosso trabalho cotidiano. Apesar disso, ainda era uma segunda-feira. Chuvosa, para completar. Passei o dia trabalhando e envolvido com outros compromissos. À noite, fui à faculdade. Um dia rotineiro até demais. 

Cheguei em casa já depois das 22h30, cansado e desmotivado. No dia seguinte, começaríamos a limpar e repintar os móveis do apartamento, que já começavam a mofar. Antes de dormir, aproveitei a ocasião para separar algumas coisas antigas que estavam guardadas, perdidas nos cafundós dos armários, e que corriam o risco de ter outro destino que não faria jus ao seu valor sentimental. Em meio às pilhas de papéis, cadernos e trabalhos escolares, algo diferente – e que eu já havia apagado completamente da memória – me chamou a atenção.

Alguns papéis, ordenados e grampeados como um livreto. Carinhosamente, rabiscados a canetinha colorida, em um traço evidentemente infantil. Logo na capa, o título indicava do que se tratava: “JORNAL”, com o J invertido – o que bem poderia se tratar de uma escolha de design um tanto quanto original, mas que, na verdade, provavelmente era uma falha do editor.

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Quer dizer, pensando bem, acho que podemos perdoar o editor – ele era o único membro da equipe. Também teve que ser pauteiro, repórter, revisor, diagramador, ilustrador… Apesar de, à época, não fazer ideia do que se tratava qualquer uma dessas palavras. Ainda por cima, conciliava a precoce função jornalística com uma intensa rotina, entre uma brincadeira e um desenho animado na televisão.

Abaixo, uma data: 15 (ou 16?) de setembro de 2011. Ou seja, aquilo havia surgido do alto de meus 6 anos. Me transportei de volta àquela época, uma criança com a cabeça a mil, deitada no chão de casa, escrevendo e rabiscando o que viesse à tona.

Olhando mais a fundo, percebia que as pautas refletiam as visões de mundo que me inquietavam: a chegada de uma nova estação, as brincadeiras infantis ou as regras que permeavam o ambiente familiar. Claro, havia erros de português, letras mal desenhadas, desenhos fora de proporção e até páginas em branco – mas gosto mais de pensar nisso como um toque autoral e um lembrete do quanto crescemos.

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Ao leitor, reproduzo aqui a íntegra de uma das notícias daquele jornal (e sim, eu tinha problemas com a letra S):

“Daque a pouco vai começar a proxima eƨtação

Vai ƨer a primavera

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Eƨpere para começar.”

A mensagem que quero trazer até pode ser um pouco genérica, nada muito diferente do que você já viu em dezenas de posts motivacionais no Instagram. Mas acho que essa minha história ilustra bem isso: talvez, hoje, você seja aquilo que nem sabia que um dia já sonhou ser. Se hoje eu tenho gana para participar de grandes coberturas, acompanhar desdobramentos de casos chocantes e retratar as mudanças políticas, sociais e culturais do nosso tempo, foi porque, um dia, uma criança entediada – e um tanto quanto inconformada, diga-se de passagem – quis se posicionar um pouco diferente perante o mundo em que vivia.

No fim, todo profissional consagrado, independentemente da área em que atua, veio de algum lugar. Talvez fosse o destino que quisesse me remeter às minhas origens em pleno Dia do Jornalista. Mas eu não poderia ter recebido homenagem mais tocante que essa.

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Marcio Souza

Jornalista, formado pela Unisinos, com MBA em Marketing, Estratégia e Inovação, pela Uninter. Completo, em 31 de dezembro de 2023, 27 anos de comunicação em rádio, jornal, revista, internet, TV e assessoria de comunicação.

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