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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

Sincericídio

Pode ser sinceridade demais e efeito colateral do poder. Mas tudo indica que é uma combinação e exercício de estupidez e ignorância. Refiro-me, óbvio, à diarreia verbal do presidente Bolsonaro.

Nos primeiros meses, imaginara tratar-se de uma estratégia de manutenção do divisionismo político decorrente da polarizada eleição. Porém, a continuidade de sua irreverência e os sinais de piora sugerem algo mais grave. Sua verborragia é incompatível com o cargo de presidente.

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A continuar neste passo e estilo, pode estar construindo um “suicídio político”. Ainda que possa alegar, em defesa e justificativa, que se trata de reação às provocações, notadamente de setores da imprensa que destacam apenas suas falas exóticas em detrimento de atos e fatos positivos de gestão.

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Registrado o temerário comportamento de Bolsonaro, anote-se, entretanto, que exageros retóricos, inadequados e impróprios são comuns em nossa recente história político-partidária.

O general Figueiredo afirmara que preferia o cheiro de cavalo ao cheiro de povo. Em outra ocasião (uma criança acabara de dizer-lhe que o pai ganhava salário mínimo), Figueiredo respondeu que, em situação semelhante, “daria um tiro no próprio coco (cabeça)”.

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Collor, “o caçador de marajás”, era um vendaval de bobagens. Itamar Franco deu “trabalho” aos cartunistas e humoristas. Topete ao vento, opinou sobre tudo. Até sobre a volta do Fusca nas esteiras de fábrica!

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O erudito e poliglota Fernando Henrique, com empáfia monárquica e arrogância acadêmica, chamou de vagabundos os aposentados e aposentandos, esquecendo sua própria e precoce aposentadoria.

Lula também cometeu excessos verbais. Relembremos: “Levantar o traseiro para negociar taxas de juros. O rei da ética e da moral. O príncipe dos honestos. Cheque em branco para José Dirceu, Roberto Jefferson e Renan Calheiros. Como nunca dantes na história.” Dilma dispensa comentários!

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Temer cometeu uma gafe cruel. Em visita ao governador Luiz Pezão (RJ), que se recuperava de um câncer, tentou fazer graça e disse que o câncer tinha feito bem ao governador, que “parecia mais bonito”.

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Algumas falas têm em comum a intenção de despolitização e (falso) distensionamento das pressões do dia a dia. Mas Bolsonaro tem ultrapassado todos os limites razoáveis.

Urgentemente, alguém próximo precisa lhe explicar que sua palavra representa o poder de estado. Que uma declaração pode gerar responsabilidades e produzir efeitos jurídicos. Que a função pública tem ônus que se impõem para além da pessoa e da própria fala.

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