Penso que nosso maior desafio, enquanto aprendizes da vida e do tempo, é conseguir transformar tudo aquilo que nos acontece em lição. Perceber que a vida não é meramente o que ocorre, mas o que fazemos com tudo o que precisamos enfrentar e transpor, eis a questão. Isso define, essencialmente, se assumiremos o papel de vítimas ou protagonistas de nós mesmos. Se repararmos bem, sempre haverá algum exemplo de superação ao nosso redor e isso me leva a crer que a escolha de ser protagonista impera por toda parte.
Em agosto, quando estive a trabalho em Sinimbu, uma das regiões mais castigadas pelas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio do ano passado, constatei justamente isso. Enquanto conversava com aqueles moradores que tinham perdido tudo o que haviam levado anos – muitos uma vida inteira, aliás – para construir, percebi que nenhum deles escolheu desistir ou se vitimizar. Todos falavam sobre se reerguer, por mais difícil que ainda pareça e por mais que a angústia e as lembranças tristes insistam em surgir nos dias de fortes chuvas.
O mesmo identifiquei nos estabelecimentos comerciais onde estive. Enquanto eu observava as marcas, ainda encardidas, deixadas pela correnteza da água que inundou aqueles empreendimentos, os proprietários me contavam que, depois do susto, não restara outra alternativa senão acreditar no recomeço e no potencial do próprio negócio. Eles também me explicavam os motivos pelos quais tinham decidido investir no comércio sinimbuense. Mesmo em pontos totalmente arrasados – em alguns, a água atingiu 2,78 metros de altura –, continuar foi a escolha mantida.
Publicidade
De volta à Redação, produzi e editei o conteúdo, cuja veiculação ocorreu na edição do dia 22, tendo como chamada de capa Marcas de Resistência. Pensando na capacidade de resiliência daquela comunidade e nos desafios estruturais que ainda precisam ser superados para que a sensação de “normalidade” se sobressaia, lembrei de uma citação bastante conhecida do norte-americano Roger Crawford. Ele diz: “Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional”. É uma frase singela, mas carregada de simbolismo e força, especialmente porque Crawford, que é atleta, palestrante e autor de best-sellers, mesmo tendo nascido com uma deficiência genética que ocasiona ausência congênita de dedos das mãos ou dos pés, consagrou-se na prática de esportes.
Apesar de não ter todos os dedos das mãos, fez fama jogando tênis e futebol americano. Ao ser o protagonista dele próprio, fez dessa dificuldade a motivação para inspirar outras pessoas. Em suas palestras, livros e também no modo de encarar tais desafios, nos mostra que desistir não foi sua opção. Por mais que as duas circunstâncias sejam distintas, o recorte que faço é do ato de continuar – e que, a meu ver, é o ato mais lindo de amor pela vida.
Para reforçar isso ainda recorro a um trecho da fala do filósofo Mario Sergio Cortella. Em uma de suas tantas palestras, disse que “deixamos de viver quando vamos tendo mortes cotidianas”, ou seja, “quando deixamos ocorrer a morte da esperança, do afeto e da capacidade de amorosidade, solidariedade e fraternidade”. Ele também lembra que cada um de nós tem sua própria obra no dia a dia. E então, qual tem sido a tua? O que não te deixa, sob hipótese alguma, desistir?
Publicidade
LEIA MAIS TEXTOS DA COLUNA FORA DE PAUTA
QUER RECEBER NOTÍCIAS DE SANTA CRUZ DO SUL E REGIÃO NO SEU CELULAR? ENTRE NO NOSSO NOVO CANAL DO WHATSAPP CLICANDO AQUI 📲. AINDA NÃO É ASSINANTE GAZETA? CLIQUE AQUI E FAÇA AGORA!
Publicidade
This website uses cookies.