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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

Somos as nossas máscaras?

Alguém poderia ter imaginado, no Natal passado, que seis meses depois estaríamos todos andando de máscara, atendendo a apelos das autoridades e ao nosso instinto de autopreservação, para nos resguardarmos contra um inimigo invisível e traiçoeiro que assombra e mata? Que ficaríamos meses reclusos em casa, apartados não só dos amigos, mas até dos familiares?

Fiquei divagando sobre essa inusitada peça – a máscara – que incorporamos à indumentária, hoje tão necessária quanto a jaqueta que vai nos abrigar do frio ou o tênis que vamos calçar para sair à rua, quando me veio à mente o teor de uma aula do curso de Filosofia. Por sinal, a derradeira, e por isso tão marcante que não se apagou da memória. Foi o desfecho de um ciclo de formação e que abriu portas para novos horizontes.

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Eu estava com uma enorme ressaca por conta da insurreição que havíamos cometido na noite anterior. Precisávamos expor – assim pensamos – nossa inconformidade com restrição social que nos foi imposta e acabamos passando dos limites.

Nada demais para os padrões de hoje, mas pitamos cigarros onde não devíamos e tomamos algumas doses de conhaque, coisa que, obviamente, era proibida segundo os protocolos da instituição. Por isso, o teor da aula e as palavras do professor soavam como uma repreensão. “As máscaras escondem o que e quem realmente se é. Levam a uma vida de fachada, a um duplo eu: o que se é e o que fingimos ser.”

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O que poderia querer? Que me declarasse culpado? Arrependido? Fiz de conta que não entendi. Afinal, racionalizei, máscaras – não as que colocamos para encobrir o rosto, mas as que adotamos para definir a forma como nos mostramos aos outros e como queremos ser vistos – também servem para nos proteger. Nos fazem parecer fortes e corajosos quando estamos apavorados; cordiais quando estamos explodindo; tolerantes até para justificarmos nossos erros.

Talvez o professor tenha mencionado um ou outro aspecto que remetesse ao uso saudável de máscaras convencionais no dia a dia para domar os excessos e as extravagâncias dos nossos impulsos. Mas não foi o que guardei daquela aula. Ele me fez sentir culpado. “Quem usa máscara para parecer o que não é esconde a si mesmo, deixa de ser autêntico, não assume os seus atos”, ele falava. Me rendi.

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