Tenho que agradecer à minha cidade natal, aos seus atuais vereadores que, unânimes, me brindaram com uma Moção de Congratulações pelos meus 80 anos.

Tenho que agradecer a Roberta Pereira, amiga de décadas – minha e da Cultura – que sugeriu a homenagem. Agradecer ao vereador Edson Azeredo, que abraçou a sugestão e apresentou, com sucesso, o requerimento.

Acredito que a honraria não se deva tanto ao meu aniversário, mas ao tempo de vida que tenho dedicado à Cultura, em especial à Literatura. E tudo começou pela curiosidade sobre minhas origens. De repente, apareceu-me a necessidade de saber de onde, quando e como antepassados imigrantes chegaram a Santa Cruz do Sul. Tive, então, a ajuda do querido Hardy Martin, diretor do Museu e do Arquivo Histórico de nossa cidade, e que abria, para mim, as portas de uma e outra instituição em sábados alternados. Nos mesmos sábados, eu visitava o meu tio Lúcio, que estava doente, e era cuidado com o maior desvelo e paciência pela muito amada tia Íris, de solteira Dreher. Depois, eu tomava um ônibus e voltava para Porto Alegre.

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Durante o período em que pesquisei por aqui, cheguei à figura dos Brummer, oficiais germânicos contratados pelo Império brasileiro para guerras na fronteira Sul. No instante em que “conheci” aqueles homens, muitos deles pertencentes à nobreza ou à aristocracia europeias, com estudos universitários, alguns poetas, professores, engenheiros, perdidos nos infinitos campos, nas matas cerradas, nos imensos rios, confundidos pelas diferentes linguagens, ouvi o chamado: eu precisava assumir a minha vocação literária, aquela “predisposição de origem obscura que leva certos homens e mulheres a dedicar a vida a uma atividade para a qual, um dia, se sentem chamados, quase obrigados a exercer (..), dando o melhor de si, sem a dolorosa sensação de estar desperdiçando a vida.” (*)

Necessitava estudar mais e melhor, preparar-me para contar essa maravilhosa história de contradições. A certa altura de meu trabalho, consegui descrever um Brummer

“Para os brasileiros comuns, um Brummer não passa de um mercenário, um comerciante da própria coragem (..)… é também um resmungão, reclamando de tudo, eternamente insatisfeito (..). Essas aparências, que são tudo que as pessoas conseguem ver, não passam de (..) enganadora superfície. (..) Um Brummer, um verdadeiro Brummer, pode estar, neste momento, fazendo música num Palácio europeu, ou pregando novas ideias numa fábrica. Pode estar escrevendo um tratado de Filosofia, ou assinando um manifesto. Pode estar ensinando o abc a pequenos colonos na América do Sul (..). Uma única ideia move sua vida: completar o vazio imemorial que o impede de existir por inteiro.” (**)

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Toda a minha gratidão está em A valsa da Medusa! 

(*) Mario Vargas Llosa, em Cartas a um jovem escritor, p 5-6.

(**) Valesca de Assis, em A valsa da Medusa, p. 15-6.

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Marcio Souza

Jornalista, formado pela Unisinos, com MBA em Marketing, Estratégia e Inovação, pela Uninter. Completo, em 31 de dezembro de 2023, 27 anos de comunicação em rádio, jornal, revista, internet, TV e assessoria de comunicação.

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