A taxação extra anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre os produtos brasileiros continua repercutindo. Nessa sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou que não devem ser tomadas medidas de cabeça quente – comentário semelhante ao do norte-americano, que admitiu conversar com Lula, “mas não agora”. Enquanto isso, as tarifas elevadas para vários países isolam o mais rico do mundo e pavimentam caminho para o crescimento da China.
A possibilidade de reforçar ainda mais os chineses como maiores clientes do mundo é apontada pela professora do curso de Relações Internacionais da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Mariana Dalalana Corbellini. Ela destaca dois motivos para o entendimento de que os EUA estão se isolando. O primeiro é econômico, em função do protecionismo proposto por Trump, que contraria 80 anos de práticas multilaterais de comércio, defendidas especialmente pelo seu país no pós-Segunda Guerra Mundial.
“Ainda que os Estados Unidos permaneçam sendo a maior economia do mundo [valores do Produto Interno Bruto], a China já ultrapassou o país em termos de comércio internacional, e se coloca como alternativa a muitos outros”, explica. O outro motivo é o componente político. Mariana destaca que Trump é visto com desconfiança por boa parte da comunidade internacional ao atuar de forma personalista e errática, priorizando a ameaça em detrimento do diálogo.
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Ela cita o fato de que os EUA forjaram sua hegemonia com base no multilateralismo e no livre-comércio, o que está sendo abandonado agora. Essa mudança pode se transformar em um problema para a liderança norte-americana no sistema internacional.
O aumento da tarifa não prejudica apenas os países com os quais os EUA têm relações comerciais. Exemplo disso é percebido pelo empresário santa-cruzense Anderson Dick. Com sua empresa FuelTech, ele atua desde 2008 nos Estados Unidos, com distribuição do que fabrica no Brasil. “A taxação é muito grave, porque inviabiliza a competição com produtos de outros países”, comenta.
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Uma medida encontrada por Dick é o envio de um estoque maior antes do prazo para a ampliação das tarifas, em 1º de agosto. “Estamos esperando a resolução dos governos para que não prejudique toda a indústria brasileira”, reforça.
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E assim como o empresário, o governo brasileiro pode ter que procurar um plano B para suprir a dificuldade que será manter a competitividade. A professora Mariana Corbellini acredita que uma possibilidade é a busca por novos parceiros comerciais. Mas isso não é fácil, nem rápido.
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O que pode sair fortalecido com essa situação são os acordos econômicos, como aqueles dos países que compõem o Brics e envolvem o Mercosul e a União Europeia (UE). O Brics reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.
Um aceno sobre a possibilidade de opções para o mercado brasileiro veio logo após o anúncio de Trump. “As tarifas não devem ser uma ferramenta de coerção, intimidação ou interferência”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning.
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O cumprimento do conteúdo da carta encaminhada por Donald Trump ao presidente Lula, com o estabelecimento de taxa de 50% sobre os produtos brasileiros, ainda é motivo de dúvidas dos especialistas.
A economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, ressalta que desde o início do mandato, as alterações de tarifas têm sido marcadas por reveses: um anúncio grande, midiático e dramático seguido de um recuo. “Não que isso não seja capaz de gerar estragos”, aponta. Ela explica que a moeda se desvaloriza, a incerteza cresce e a economia dá uma retraída.
Até 1º de agosto, acredita Patrícia, a situação poderá ser amenizada, porque a alta foi completamente intempestiva e desproporcional. “O Brasil historicamente é um bom parceiro diplomático e comercial dos EUA, inclusive se encaixando muito bem nas diretrizes de bom parceiro comercial das definições de Trump [há 15 anos os EUA exportam mais que importam do Brasil]”, acrescenta.
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Enquanto isso, oposição e base aliada esperam uma reação do presidente Lula, que antecipou a aplicação da lei da reciprocidade. A economista entende que a melhor estratégia seria não responder à carta – nenhum país que a recebeu respondeu – e negociar. “Ainda que pareça haver pouco espaço de negociação, pelo teor da carta, não podemos esquecer que consumidores americanos – famílias e empresas – também serão afetados. E lá também haverá pressões de reversão das tarifas”, alerta Patrícia.
Em meio à espera do posicionamento brasileiro e incerteza da aplicabilidade do anúncio de Trump, o mercado fica apreensivo, pois os EUA são o segundo principal destino para as exportações brasileiras e do Rio Grande do Sul. O aumento de 50% nos produtos evidencia a natural perda de market share, seja pela diminuição de consumo, seja pela substituição de produtos.
“Ainda que no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e gaúcho as participações das exportações para os EUA sejam relativamente pequenas, setorialmente, a medida tem impactos relevantes”, observa Patrícia.
Entre os setores mais afetados estão petróleo, aço, aeronaves, café, celulose, suco de laranja e carnes. Em especial, no Rio Grande do Sul, pode haver interferência no tabaco, armas e munições, celulose, calçados, automóveis, tratores e outros veículos, máquinas e materiais elétricos, reatores nucleares, caldeiras e máquinas, madeira e carvão vegetal, cutelaria e talheres, borracha, carnes e miúdos. Na vida dos cidadãos brasileiros, a diminuição da produção industrial, ou mesmo de commodities, pode impactar a geração de empregos.
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