Com o início da vacinação das crianças contra a Covid-19, eram esperadas as polêmicas sobre aspectos como a segurança dos imunizantes oferecidos a esse público. E as previsões se confirmaram – houve estridência desde os ocupantes dos mais altos cargos até os mais simples brasileiros. Para alguns, é um debate distante; para outros, uma “tomada de lado” no espectro político-ideológico. E há até quem ache tudo “divertido”, visto o que muitos escrevem para defender sua “opinião”.
Mas olhando para o cotidiano, para aquilo que está próximo, vejo algo muito pior e triste. Não sei dizer quantos são, mas pelo que se ouve em conversas aqui e ali, há pais e mães optando por não vacinar os filhos contra a Covid. As alegações variam, mas geralmente é porque não se sentem seguros sobre o medicamento e até questionam se as vacinas não foram desenvolvidas rápido demais, “queimando etapas”. Não conseguem ter a clareza se a relação custo–benefício é boa: o risco de algum efeito ruim do imunizante versus o risco do adoecimento.
Por que isso parece “um crime em andamento”? Porque essas dúvidas, infelizmente comuns nos dias de hoje, representam, a meu ver, um peso enorme colocado nas costas dos pais, que, na maioria, não têm condições de fazer tal avaliação. A responsabilidade de determinar se uma vacina é segura, se ataca adequadamente a doença, se oferece garantias, é de cientistas e profissionais da saúde, que têm formação adequada para isso. Um pai ou uma mãe não deveria ser colocado na posição de decidir se um imunizante é seguro ou não para o filho. É quase desumano. Mas é nossa realidade de hoje, em que somos fustigados por todo tipo de desinformação, oriunda de pessoas de caráter mais que duvidoso.
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Portanto, mais que um debate político, trata-se de um crime, por envolver a saúde e o futuro de crianças. Sob o manto da “liberdade”, palavra hoje tão mal usada, são incutidas nos pais dúvidas injustificadas e falsas. No rol de responsabilidades e cuidados com os filhos não deveria constar a exigência de determinar a segurança de uma vacina, ou de qualquer outro medicamento.
O que fazer? Infelizmente, como em muitas outras situações, só tomamos consciência do erro após decorrido um bom tempo, e aí não há mais volta, apenas lidamos com as consequências e procuramos reduzir os danos. Lamento que, para alguns pais, o futuro possa trazer amarguras de decisões ruins que foram tomadas com base em dados falsos e medos ilusórios. Ser enganado por fake news quando o assunto é um debate político ou outra questão econômica é uma coisa; outra bem diferente é ser enganado em um assunto sobre a saúde dos filhos. Se eu pudesse dar um conselho, seria: não caia nessa, confie em quem realmente sabe e se conduz pela ciência e o bem-estar das pessoas. Se há fartura de desinformação, também há de informação correta. Basta saber onde olhar.
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