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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

Um pouco de inutilidade

Pessoas reunidas em um auditório para ouvir e ler poesia. Para quê? Para nada, em princípio. Nenhum valor prático, palpável nisso. Ninguém ganhou dinheiro, pode ter certeza. Mas há coisas que não se pode medir. Nessa sexta-feira, no anfiteatro do Memorial da Unisc, ocorreu a primeira edição do ano dos Encontros com a Poesia. É uma promoção do curso de Letras, do Programa de Pós-Graduação em Letras e do Programa de Pós-Graduação em Educação da universidade, que ocorre mensalmente, aberta à participação da comunidade. O encontro dessa noite, organizado em parceria com o grupo Sobre Livros & Leituras – uma “confraria” de apreciadores de literatura que se reúne há mais de dez anos em Santa Cruz –, prestou uma homenagem a Manoel de Barros, um dos mais originais poetas da língua portuguesa. 

Manoel dizia que “a poesia é a virtude do inútil, o inútil só serve pra poesia”. Nascido em Cuiabá, Mato Grosso, em 1916 e falecido em 2014, ele dedicou boa parte de seus 97 anos a produzir literatura a partir de coisas, aparentemente, insignificantes. Sem valor. Porém, na escrita de Manoel, qualquer objeto trivial – até uma pedra – pode se tornar algo mágico. “Uma cadeira pode servir poeticamente pra mil coisas além de sentar”, afirmava. E, assim, “o mundo fica imenso”. Trancado em seu escritório – o “lugar de ser inútil”, como ele mesmo chamava –, Manoel de Barros criou obras como Livro das ignorãças, Livro sobre nada, Menino do mato e muitas outras. Todas fascinantes.

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Nessa sexta-feira, ao menos por uma hora e meia, pessoas desconhecidas estiveram conectadas pela palavra poética. Estiveram unidas, em um encontro. Por poucos momentos. Mas suficientes para que o mundo “ficasse imenso”. E com um pouco, nem que um pouquinho, mais de beleza.   

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