Jasper

Vida irrelevante

Quase todos os dias alguma pessoa das minhas relações – ou um colega de trabalho – pergunta por que não me encontrou nas redes sociais. Por vezes são diletos amigos que encontram algum conteúdo interessante que gostariam de compartilhar comigo. Basta dizer que, à exceção do X (antigo Twitter) e do WhatsApp, eu dispenso essas ferramentas, para ser olhado como se fosse um ser extraterrestre.

O cotidiano de radicalização, de ofensas, de egoísmo, de ostentação e estímulo ao consumismo aumenta a resistência em aderir à verdadeira epidemia mundial. Generalizar é sempre um exercício injusto, mas – de verdade! – postar detalhes de minha vida pessoal ou profissional não me seduz. “Não me considero uma pessoa tão relevante e interessante a ponto de postar detalhes do meu cotidiano assim, abertamente”, costumo responder quando insistem sobre minha “ausência do mundo tecnológico”;

LEIA TAMBÉM: Repensar o futuro

Publicidade

Artistas e empresas, entre outros profissionais, não podem prescindir do uso das redes sociais. É como depender de oxigênio para sobreviver. “O mundo está nas redes” é o que ouço com frequência. E isso é a mais absoluta verdade. “Quem não é visto, não é lembrado”, reza o ditado que é muito mais antigo que a própria internet. Por isso, empregar modernas ferramentas tecnológicas é um impositivo, mas no âmbito pessoal prefiro a discrição, o recato e o direito à privacidade.

Quando apresento os argumentos para manter-me distante da exposição pública, minha filha costuma debochar e recorda um velho episódio ocorrido há alguns anos.

– Pai, eu lembro que tu eras contra o Whats, jurava que jamais ia aderir. Mas hoje, desde as 6h da madrugada, tu passa o dia transmitindo notícias e conteúdos com centenas de amigos e de colegas de profissão – costuma zombar a guria sem esconder o sorrisinho maroto.

Publicidade

LEIA TAMBÉM: Questão de DNA

Ela tem toda a razão. Nesses casos, costumo argumentar que o “zap” é um instrumento onde é possível selecionar o destinatário com maior precisão. Essa prática reduz a possibilidade de deturpações, manipulações, distorções e de agressões perpetradas por aqueles que discordam, mas que por escassez de educação – e paciência – para debater preferem agredir, ofender e apelar na troca de argumentos.

Tão difícil quanto educar os usuários é regular o uso das redes sociais. Como se vê todos os dias, é preciso desenvolver mecanismos para coibir abusos e excessos. Mas como fazer isso e, ao mesmo tempo, não tolher a liberdade e instalar um estado policialesco? É preciso muito cuidado para não transformar zelo em excesso e “controle” em censura. Escolher pessoas sensatas para elaborar um código de conduta é tarefa árdua.

Publicidade

O debate sobre a regulação é tenso. É óbvio dizer que a virulência que vai (e já está) permeando os debates resultará em brigas de baixo nível.

LEIA OUTROS TEXTOS DE GILBERTO JASPER

Publicidade

Gilberto Jasper

Share
Published by
Gilberto Jasper

This website uses cookies.