Era início de noite e Zahra, sua mãe e três irmãs estavam a caminho da casa de outra irmã para jantar quando viram pessoas correndo e ouviram tiros na rua. “O Taleban está aqui!”, pessoas gritaram. Em apenas alguns minutos, tudo mudou para a jovem de 26 anos, moradora de Herat, terceira maior cidade do Afeganistão.
Zahra cresceu em um Afeganistão sem o Taleban, onde as mulheres ousavam sonhar com uma carreira e as meninas estudavam. Nos últimos cinco anos, ela trabalhou com organizações sem fins lucrativos locais para aumentar a conscientização de mulheres e pressionar pela igualdade de gênero. Seus sonhos e ambições, contudo, desabaram na noite de 12 de agosto 2021, quando os insurgentes invadiram sua cidade, hasteando suas bandeiras brancas com uma proclamação de fé islâmica em uma praça central, enquanto pessoas em motocicletas e carros corriam para suas casas.
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Quando o grupo fundamentalista governou o país por cinco anos, entre 1996 e 2001, ficou proibida a educação de meninas e o trabalho feminino. Para sair de casa ou viajar, elas precisavam ser acompanhadas por um parente do sexo masculino, e aquelas que eram acusadas de adultério eram apedrejadas.
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O temor do retorno ao regime Taleban pode ser notado desde antes da tomada do poder de fato pelo grupo. Quando ele ainda avançava sobre cidades em poder do governo, cerca de 250 mil afegãos fugiram em direção a Cabul, visto como último refúgio para muitos. De acordo com a agência da ONU para refugiados, 80% desse total eram mulheres ou crianças.
Relatos de pessoas que chegaram a Cabul antes do fim de semana confirmam que, mesmo antes de derrubar o governo, o Taleban começou a aterrorizar mulheres e meninas com ameaças de casamentos forçados, sequestro de mulheres e violência física em territórios já conquistados. Na semana passada, famílias da Província de Takhar, que se deslocaram para Cabul em razão do avanço dos rebeldes, relataram que meninas que voltavam para casa em um riquixá motorizado foram detidas e chicoteadas por usarem “sandálias reveladoras”.