Roselene Wermuth e Liane Müller, que já enfrentaram casos de doença de pele na família, retiram o protetor três vezes por ano | Foto: Vanessa Behling
Depois de quase 15 anos, a lei que prevê a distribuição gratuita de protetor solar aos agricultores familiares segue gerando interesse no Rio Grande do Sul. Em Santa Cruz do Sul, a busca pelo produto aumentou. Ele passou a ser distribuído gratuitamente aos produtores que, ao confirmar a atuação na atividade rural, têm direito a um frasco a cada quatro meses. O interessado deve estar munido do Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF) e se dirigir ao Sindicato dos Agricultores Familiares, onde está centralizada a distribuição no município.
O item também pode ser retirado nas filiais do STR em Monte Alverne e Alto Paredão. Conforme a Secretaria Estadual de Saúde, atualmente estão cadastradas 1.632 pessoas de Santa Cruz do Sul no programa de distribuição.
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Em 2024 houve a retirada de 2 mil frascos, numa média de 200 por mês, e por quase três meses o item esteve em falta. Quem procurou três potes no ano passado, no STR de Santa Cruz, foi a agricultora Roselene Wermuth, de 48 anos. Moradora de São Martinho, no interior de Santa Cruz, ela passou a retirar de forma gratuita o protetor em janeiro de 2018, após ser dignosticada com um problema de pele que hoje a impede de trabalhar sob sol intenso.
“Antes eu não usava, não dava bola. Hoje passar protetor faz parte da rotina diária. Não saio de dentro de casa sem usar. Além disso, por conta das manchas, cuido muito os horários em que vou para o sol, pela manhã no máximo até umas 9h30 e à tarde somente depois das 16 horas”, disse.
Roselene conta que após apresentar o problema de pele, a importância do uso do protetor solar tornou-se assunto recorrente com familiares e vizinhos. No entanto, ela observa que a resistência ainda é grande, principalmente pelos homens. “É preciso que todo mundo se conscientize do quanto é necessário o uso todos os dias. Infelizmente, somente depois de ter o problema é que nos damos conta da importância que é se prevenir.” Em sua casa, a filha de 22 anos também faz uso do produto. Já o marido costuma aplicar apenas quando vai à praia.
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Liane Müller, de 55 anos, moradora da localidade de Rio Pardense, interior de Vale do Sol, diz que a entrega gratuita é um incentivo a mais para o uso. “Antes comprávamos, e com a distribuição ficou melhor. Desde então, não ficamos mais sem ter e usar. Lá em casa todos fazem uso. Ainda mais depois do câncer de pele enfrentado pelo meu marido”, ressaltou.
Liane, que participa do programa desde agosto de 2014, afirma que não utilizava protetor antes da doença se manifestar no seu marido. Hoje fazem a retirada dos três frascos, a que têm direito no ano, no STR de Vale do Sol.
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Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, em 2024 foram registrados 123 casos de melanoma maligno de pele em Santa Cruz. De acordo com a Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan), atualmente oito pessoas estão em acompanhamento pela entidade. A médica dermatologista Jaquelini Barboza destaca que tem sido registrado um grande aumento da incidência de câncer de pele em pessoas jovens. “Temos notado o aumento do número de casos, principalmente em pessoas mais jovens, não só naqueles agricultores de mais idade, que por décadas ficaram trabalhando no sol sem proteção. Muitos consultórios têm registrado um número maior de agricultores na faixa de 30 a 40 anos com a confirmação da doença.”
Aprovada em junho de 2010, a lei que criou o Programa Estadual de Proteção à Saúde do Trabalhador Rural foi uma iniciativa do então deputado estadual, hoje deputado federal Heitor Schuch (PSB). O parlamentar relembra que a aprovação do projeto na época foi muito difícil. “Não havia parâmetro. Mas hoje virou política pública na saúde preventiva. E a lei emplacou porque os agricultores, em especial as mulheres, convenceram a família do benefício do protetor solar.”
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