Segundo Natalino Bucher e Luana Dick, corte da receita pode levar ao fim da entidade
A Associação dos Aposentados e Pensionistas de Santa Cruz do Sul (Apopesc) teve a sua principal receita cortada pelo governo federal em decorrência da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal. Em meio à investigação do esquema de descontos irregulares em benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a Controladoria-Geral da União suspendeu a autorização de todos os acordos de cobrança de mensalidade associativas.
A medida impactou entidades que não estavam sob investigação, incluindo a Apopesc, que há 42 anos atua no município. Mensalmente, era descontado 1% do benefício do INSS pago a cada um dos 1,5 mil associados (que autorizaram a dedução), devido ao vínculo com a Confederação Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos (Cobap).
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Tal modelo foi implementado em 2009 – mesmo ano em que a entidade mudou-se para a sua sede atual – e resultava em um montante mensal de R$ 18 mil, representando 90% da receita. O valor chegou a ser abatido dos aposentados e pensionistas em maio. No entanto, será restituído em junho, e não será destinado à entidade.
Com isso, a Apopesc decidiu, desde o último dia 5, adotar uma nova forma de pagamento direto. Assim, os associados devem ir até a entidade, regularizar seu cadastro e obter seu carnê, que terá custo mensal de R$ 25,00 (individual) ou R$ 40,00 (familiar).
Conforme a gerente da associação, Luana Dick, é necessário que pelo menos 700 associados (46,6% do total) contribuam. Atualmente, cerca de 150 já aderiram ao pagamento do carnê. Ou seja, necessitam da ajuda de pelo menos outras 550 pessoas. “Isso é para mantermos a associação ativa. E mesmo assim, teremos que passar por uma reestruturação”, ressalta.
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Desde que a operação foi deflagrada, em 23 de abril, muitos cidadãos procuraram a Apopesc para esclarecer dúvidas. A entidade colocou-se à disposição para auxiliar quem não tem acesso ao aplicativo Meu INSS. “Muitos até questionaram se nós estávamos envolvidos ou se a Cobap também estava”, disse Luana.
No dia 1º de outubro de 1982, um grupo de líderes locais fundou uma entidade voltada à defesa dos direitos dos aposentados e pensionistas. Após uma reunião no Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Fumo e Alimentação (Stifa), liderada por Dorval Knak, nascia a Apopesc, que inicialmente funcionava em uma sala cedida pelo sindicato.
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No fim dos anos 1990 e início de 2000, uma parceria com um escritório de advocacia para mover processos de revisão e correção de aposentadorias teve decisão favorável na Justiça. Com isso, a entidade recebeu um percentual dos montantes obtidos pelos reclamantes, o que se tornou uma capitalização importante para a expansão. Na gestão de Germano Fernando Kelber, falecido em 2024, passaram a planejar a construção da sede na Rua Sete de Setembro, 503, no centro de Santa Cruz. Logo iniciaram-se os atendimentos de saúde, com especialidades ofertadas na sede e em consultórios.
Atualmente, a Apopesc oferece atividades que incluem pilates, fisioterapia, acupuntura, massoterapia, terapia holística, yoga e grupo de alongamento e fortalecimento. Há ainda acesso a dentista, clínico-geral, limpeza de pele, nutricionista e peeling facial. É possível também fazer a declaração de Imposto de Renda, participar de excursões e ter acesso a atendimento jurídico e planos de celular.
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Além dos serviços na sede, os associados têm descontos de até 50% para atendimento com diversos especialistas em seus consultórios. Podem pagar ainda até 45% a menos em exames de laboratório e 30% de imagem. “Os aposentados vão perder todas essas vantagens se a associação fechar”, alerta o presidente da Apopesc, Natalino Bucher.
A gerente Luana Dick ressalta que o serviços prestados não só contribuem para a qualidade de vida dos associados, mas também para o sistema público de saúde. “Quem está vindo aqui está deixando de ir ao posto de saúde e entrar naquela fila para marcar o exame e fazer consulta. O fechamento da entidade iria impactar a saúde no município.”
Em nova fase da Operação Sem Desconto, a Polícia Federal cumpriu mais dois mandados de busca e apreensão no município de Presidente Prudente (SP). A finalidade foi apurar a atuação de um operador financeiro ligado a uma das entidades investigadas. Ele é suspeito de ter adquirido veículos de alto valor com recursos oriundos da fraude contra aposentados e pensionistas.
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Desde que foi deflagrada, as autoridades já atuaram em 13 estados, incluindo o Rio Grande do Sul. Estima-se que entre 2019 e 2024, as entidades investigadas tenham descontado cerca de R$ 6,3 bilhões. Aproximadamente 3 milhões de beneficiários têm algum valor deduzido mensalmente de suas aposentadorias ou pensões destinadas ao desconto associativo.
Até a tarde dessa quarta-feira, 14, primeiro dia para notificar o INSS a respeito de cobranças, o instituto recebeu 480.660 acessos de beneficiários que tiveram descontos em seus proventos. Destes, 473.940 (98,6%) não reconheceram vínculo com a organização associativa.
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