“Além de o cigarro ilegal ter 32% do mercado, é preciso frisar que hoje 100% dos dispositivos eletrônicos para fumar são contrabandeados”, diz Alves
Pautas associadas à 11ª Conferência das Partes (COP-11) da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco, iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), que ocorrerá entre os dias 17 e 22 deste mês, em Genebra, na Suíça, são acompanhadas atentamente pela Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo), sediada em Brasília. E a missão de representar o setor nesta e em outras demandas é de um goiano, Edimilson Alves, na condição de diretor-executivo da entidade.
Nascido em Alexânia, a 120 quilômetros de Goiânia, Alves, que é advogado, tinha conhecimento não tão profundo da cadeia produtiva do tabaco no momento em que aceitou o desafio de se integrar à equipe da Abifumo, em meados de 2024. Então aos 51 anos (está com 52), ele atuava como diretor-geral do Instituto Pensar Agro (IPA), também sediado em Brasília, ligado à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Ali, a partir do trânsito nos ambientes legislativos federais, tinha noção dos inúmeros desafios que o setor do tabaco enfrentava, em virtude das constantes e variadas pressões de movimentos antitabagistas, dentro e fora do governo. Virou um entusiasta absoluto desse segmento. Na quarta reportagem da série O tabaco na mesa, Alves aponta os principais aspectos que inquietam as indústrias do tabaco no Brasil, e que tendem a ter repercussão na COP-11. É um setor que há muitos anos lida com a concorrência de produto ilegal, oriundo de contrabando ou de fabricação clandestina em território nacional.
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Por outro lado, além das inúmeras restrições para o comércio de cigarros, o segmento tem buscado sensibilizar o governo e a sociedade para a pertinência de regulamentar o mercado dos dispositivos eletrônicos para fumar, os DEFs, também conhecidos como cigarros eletrônicos. O processo se arrasta há anos junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em paralelo, o mercado nacional é inundado por produto contrabandeado.
Esses e outros temas de interesse das indústrias e, por extensão, de toda a cadeia produtiva, acabam tendo na Abifumo um interlocutor. Ela atua ao lado dos produtores rurais, representados pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e por federações e sindicatos de trabalhadores rurais e da agricultura, e ainda das empresas produtoras, processadoras e exportadoras de tabaco, estas agrupadas no Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco).
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Uma vez que tem sua sede em Brasília, a Abifumo ocupa-se justamente do acompanhamento direto dos trâmites e decisões em ambiente legislativo e executivo federal. Fundada em 6 de agosto de 1979, inicialmente no Rio de Janeiro, a Abifumo alçou-se à condição de relevante entidade do agro nacional, tendo tido em seu grupo gestor, por muitos anos, o ex-ministro da Agricultura e ex-presidente do Banco do Brasil Nestor Jost, candelariense, que faleceu em 2010.
Na entrevista à série O tabaco na mesa, Alves reitera que falta transparência no processo de preparação que antecede a COP, em especial no âmbito da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro (Conicq), instância interministerial responsável por debater os temas relacionados a decisões advindas de cada conferência. Ele também salienta, uma vez mais, o quanto o insucesso na repressão à problemática do contrabando e do produto ilegal aflige o setor e, obviamente, a sociedade. Além da concorrência desleal, a evasão de divisas e o financiamento do crime organizado são um drama que não tem sido estancado pelas autoridades competentes.
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A cadeia produtiva do tabaco e o governo brasileiro hoje têm bastante clareza sobre a catástrofe que representa o comércio de produto ilegal (advindo de contrabando ou de fábricas clandestinas) em realidade nacional. Esse produto ilícito ocupa nada menos do que 32% do mercado, e isso que houve significativo recuo em relação a 2019, quando já se situava na faixa de 60% de participação. Houve inibição mais forte durante a pandemia, com as restrições à mobilidade social em diferentes ambientes.
Atualmente, por cálculos do setor, o volume do mercado ilegal no Brasil corresponde a R$ 34 bilhões. As perdas decorrentes de contrabando são estimadas em R$ 9 bilhões
A 1ª Pesquisa Nacional sobre a Demanda por Bens e Serviços Ilícitos no Brasil, realizada pela Escola de Segurança Multidimensional (Esem), da Universidade de São Paulo (USP), descortina um cenário de franca calamidade, não apenas sobre as finanças, mas também sobre a saúde e o ambiente produtivo e industrial. O estudo, cujo resultado foi divulgado em meados de 2025, buscou levantar as percepções acerca da aceitabilidade de produtos não oficiais, além do reconhecimento desse tipo de produto e da frequência de compra. Foram ouvidas 3 mil pessoas, das quais 1.880 de forma online e outras 1.120 em entrevistas presenciais.
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A conclusão é de que “o mercado de bens ilícitos é um fenômeno global que compromete a economia formal, financia organizações criminosas e terroristas e atinge diretamente os grupos sociais mais vulneráveis”. O relatório final ainda reitera que o comércio de ilícitos requer atenção porque sua demanda tem origem direta nos consumidores. “Produtos com alta procura atraem organizações criminosas, que estruturam cadeias globais de atividades ilícitas, envolvendo falsificação, adulteração, contrabando, descaminho, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e controle de redes de distribuição e comercialização”.
No caso específico dos produtos de tabaco e nicotina, levantou-se que 15% da população brasileira é fumante (o que conforma um público de quase 32 milhões de pessoas). Nesse cenário, três marcas paraguaias ilegais (Eight, Gift e Camel) representam 11% do total de menções de marcas favoritas dos brasileiros. Em outro nicho, embora os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) sejam proibidos no País, 55% dos usuários existentes, e que consomem produto ilegal, afirmam usar tais produtos várias vezes durante a semana.
Em termos de percepção das causas da ilegalidade no setor, a pesquisa identificou que para 22% dos brasileiros o comércio ilegal de tabaco existe em razão da demanda por produtos mais baratos; 20% acreditam que os impostos elevados são a principal causa; 59% acreditam que o comércio ilegal de tabaco prejudica a economia nacional; 74% acreditam que o comércio ilegal de tabaco fortalece o crime organizado e 43% das menções indicam que os brasileiros defendem maior fiscalização nas fronteiras para combater o comércio ilegal.
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