Agronegócio

“Há ranço ideológico no País”, diz Airton Artus

Atualmente deputado estadual, Airton Artus (PDT) conhece bem de perto a relevância da cadeia produtiva do tabaco para o desenvolvimento dos municípios. Ele foi prefeito de Venâncio Aires e dirigente da Câmara Setorial. Fala com propriedade acerca da importância do segmento, que vai além dos beneficiados diretamente com a lavoura. O comércio ganha, o poder público arrecada e os prestadores de serviços têm um mercado potencial para atuar.

Mesmo cientes dessa realidade, muitos políticos preferem não atuar na defesa do setor produtivo, diz Artus, por falta de coragem no momento de assumir determinadas posições. Ele lamenta ainda o fato de que o tabaco é apontado como fonte de problemas e lembra que outros produtos capazes de prejudicar a saúde dos usuários não entram em pauta, como alimentos ultraprocessados, itens falsificados e até medicamentos.

Como prefeito, Artus recorda já ter acompanhado algumas edições da Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (COP). Esses encontros colocaram em pauta questões que poderiam resultar em problemas para o setor. Por isso, reforça, é importante que toda a cadeia produtiva esteja conectada nos assuntos a serem tratados no evento que ocorrerá na semana que vem, dias 17 a 22, em Genebra, na Suíça. Ficar de olho em como o Brasil deve se manifestar é fundamental para entender os rumos desse relevante setor.

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Entrevista – Airton Artus, deputado estadual

Gazeta do Sul – O senhor já foi prefeito de município em que o tabaco tem relevância. Qual a importância desse setor?

Airton Artus – A cadeia produtiva do tabaco tem uma relevância muito grande, e, como prefeito, eu fui testemunha disso. Além do benefício para os produtores rurais, ao colono, há um impacto muito grande na cidade. As pessoas que plantam gastam e consomem no comércio local, o que movimenta bastante a economia.
Além disso, há também o retorno do ICMS que aumenta a arrecadação e os tributos destinados aos cofres municipais. Com isso, as prefeituras passam a ter mais condições de investir e aplicar recursos em setores como saúde e educação.
Para mim, que fui prefeito, o tabaco tem uma importância muito grande. No caso de Venâncio Aires, assim como em Santa Cruz, há um fator adicional: como temos a indústria fumageira, existem também os empregos gerados por essas empresas. São trabalhadores do setor que fazem com que o impacto seja ainda maior.
Assim, no comparativo, existem cerca de 300 municípios que têm a vantagem de contar com a fumicultura. Mas alguns deles ainda possuem a indústria, o que amplia significativamente os seus benefícios econômicos.

Como o senhor acredita que os políticos podem auxiliar para garantir mais segurança aos produtores?

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Nós precisamos fazer a nossa parte, compreendendo a importância da cadeia produtiva. Temos de ficar atentos não só às medidas governamentais relacionadas ao financiamento da produção agrícola e às condições para que a indústria processe o fumo e realize exportações com segurança e garantias, evitando problemas como a recente taxação das exportações para os Estados Unidos; mas também a questões que envolvem medidas que, por vezes, são tomadas por motivos ideológicos, como já ocorreu aqui no Brasil.
Além disso, é preciso observar o apoio que o governo, em certas ocasiões, concede às ações da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, por exemplo. Portanto, nós, políticos, devemos estar atentos tanto ao comportamento dos governos internamente quanto às suas posições no cenário internacional.

O que explica tão poucos políticos apoiarem o setor?

Primeiro, porque os políticos muitas vezes não têm coragem de assumir determinadas posições, seja por medo de uma avaliação negativa da sociedade ou do eleitorado, seja por ignorância ou desconhecimento da área. Muitos não têm noção do impacto que isso gera na produção primária, no processo de beneficiamento, na comercialização e também, como mencionei antes, no comércio e em outras áreas da economia, além do reflexo direto nos municípios.
Percebo também que muitos políticos, quando demonstram preocupação, focam exclusivamente a questão da saúde. No entanto, não fazem uma avaliação relativa e comparativa com outros produtos também prejudiciais à saúde, mas que não recebem o mesmo tratamento dado ao tabaco e que, muitas vezes, empregam muito menos pessoas e geram bem menos receita para o Estado, os municípios e o País.

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O senhor fez um discurso forte na abertura da colheita do tabaco. Acredita que a questão da polarização ou outra influência política possa atrapalhar o setor?

A questão não é propriamente de polarização, e sim de um ranço ideológico contra o setor do tabaco que existe já há muitos anos, desde 1995. Não tenho nenhuma dúvida de que isso pode ter um impacto negativo. No entanto, mais do que nunca, o papel dos políticos deve ser o de proteger o setor desse tipo de postura política. É isso que nós temos procurado fazer ao longo do tempo.
No meu discurso, que foi bastante incisivo, mencionei novamente produtos como alimentos ultraprocessados, produtos falsificados e até medicamentos. Trata-se de uma série de itens que também fazem mal à saúde, mas que não recebem o mesmo tratamento dado ao tabaco e que, muitas vezes, geram muito menos empregos. Quando a preocupação é a saúde, deveríamos priorizar o combate ao contrabando, que chega a 40% do consumo brasileiro.

Em que tom é tratada a questão da produção na COP?

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Participei da COP em 2010, no Uruguai, em Punta del Este; em 2012, em Seul, na Coreia do Sul; em 2014, em Moscou, na Rússia; e em 2016 em Nova Déli, na Índia, todas elas enquanto prefeito e, na última, também como presidente da Câmara Setorial do Tabaco.
Em todas essas conferências, a pauta principal sempre foi a produção. Houve tentativas de reduzir ou limitar a área de plantio, o que seria prejudicial para o Brasil. Nesses momentos, atuamos em conjunto com a diplomacia e com o Ministério das Relações Exteriores, conseguindo evitar que fossem tomadas medidas que pudessem afetar negativamente a produção nacional.

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Lavignea Witt

Me chamo Lavignea Witt, tenho 25 anos e sou natural de Santiago, mas moro atualmente em Santa Cruz do Sul. Sou jornalista formada pela Universidade Franciscana (UFN), pós-graduada em Jornalismo Digital e repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações.

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