Estados Unidos foram segundo maior mercado para o Brasil no primeiro semestre do ano
A mais polêmica carta do ano para brasileiros foi emitida quarta-feira, 9, pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump. Em texto encaminhado ao Palácio do Planalto, comunicou a decisão de sobretaxar a importação dos produtos feitos no Brasil. O político usou como justificativa o tratamento dado pela Justiça ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e às empresas norte-americanas proprietárias das redes sociais.
No documento, endereçado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Trump adiantou que, a partir de 1º de agosto, a tarifa será de 50%. Em abril, havia anunciado que os produtos brasileiros teriam 10% como taxa. A repercussão foi imediata. Políticos, economistas e dirigentes de entidades evidenciaram a preocupação com a situação e passaram a apontar a necessidade de diálogo para que, mais uma vez, não passe de bravata do líder dos EUA e seja resolvido no campo diplomático.
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Alguns setores acenderam o sinal de alerta, pois o mercado norte-americano, mesmo não tendo a relevância apontada nas últimas décadas, ainda é importante. Assim, enquanto o governo brasileiro abriu a possibilidade de aplicação da lei da reciprocidade (mecanismo que iguala as taxas do parceiro comercial), muitos ficam de olho nos movimentos do mercado, como o desempenho do real frente ao dólar. A moeda brasileira apresentou desvalorização expressiva com o anúncio das taxas.
O setor brasileiro do tabaco, produto que movimenta a economia do Vale do Rio Pardo, acompanha com preocupação a decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa adicional de 50% sobre as importações do produto a partir de 1º de agosto. A medida, anunciada como parte de um pacote de retaliações comerciais, pode comprometer a competitividade do tabaco brasileiro no mercado norte-americano, atualmente o terceiro maior destino em volume e valor.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC/ComexStat), entre janeiro e junho de 2025, o Brasil exportou 19 mil toneladas de tabaco para o território americano, gerando US$ 129 milhões em receita. No acumulado de 2024, foram 39,8 mil toneladas e US$ 255 milhões em vendas externas para o país. Isso representa cerca de 9% das exportações totais brasileiras do setor, que alcançam, em média, 500 mil toneladas por ano para mais de cem países.
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Para Valmor Thesing, presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), o momento exige responsabilidade e equilíbrio. “A taxação cria uma situação bastante complexa, mas acreditamos no diálogo e em uma saída diplomática, porque ninguém está ganhando com isso — nem os Estados Unidos, nem o Brasil.”
Segundo ele, no início de deste ano, o tabaco brasileiro pagava uma tarifa média de US$ 0,375 por quilo para entrar nos EUA. Esse valor foi acrescido em 10% em abril, no primeiro anúncio feito pelo presidente Donald Trump. Agora, com o adicional de 50%, a competitividade do produto brasileiro no mercado norte-americano fica ameaçada.
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“Se for mantida, possivelmente, o Brasil não será mais competitivo para o mercado norte-americano. Agora, se olharmos por outra ótica, há uma demanda mundial muito grande de tabaco, e é muito provável que o produto seja remanejado para outros destinos”, ressaltou Thesing.
Apesar da preocupação, o setor mantém uma visão cautelosa. Pesquisa da Deloitte divulgada recentemente projeta um crescimento nas exportações brasileiras de tabaco em 2025, com aumento entre 10,1% e 15%, tanto em volume quanto em valor. Para Thesing, esse cenário reforça a confiança de que o impacto da tarifa, caso não seja revertida, poderá ser absorvido pela diversificação dos mercados de destino.
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“De todo modo, o setor está atento, mobilizado e confiante de que a diplomacia buscará uma solução antes da entrada em vigor da tarifa, prevista para o dia 1o de agosto.”
O presidente do Sistema Fiergs, Claudio Bier, defendeu que o caminho passa por negociação e mediação. Importante parceiro comercial do Brasil, os Estados Unidos são o segundo maior destino dos produtos gaúchos (8,22% do total exportado em 2024) e o terceiro país nas importações do Rio Grande do Sul (10,7%).
“Exportamos muito tabaco, madeira, calçados, celulose. Essas tarifas nos atingem diretamente. Por isso, nossa posição é pela mediação para a solução do impasse comercial”, afirma Bier.
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Desde o anúncio do governo dos EUA, o presidente está em contato com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e dirigentes das demais federações industriais. “Temos de intermediar essa relação, porque se ficar como está, será muito ruim para todo o Brasil, para todas as indústrias e todo o comércio. É hora de ter calma e negociar, com toda a força da indústria brasileira unida, para superarmos o impasse que está criado.”
A elevação das tarifas não é vista pela Fiergs e CNI como consequência de fatos econômicos. E pode impactar a competitividade de 10 mil empresas brasileiras, que exportam para os EUA. Há muitos anos, a balança comercial entre os dois países é superavitária para o lado norte-americano. Na visão de Bier, a mudança ameaça empregos e a operação de muitas indústrias.
“Acredito que Trump não venha a exercer esses 50% anunciados. Em casos parecidos com outros países, ele acabou negociando. Por isso, o caminho é a mediação, a conciliação”, diz Bier.
Além da indústria da transformação do tabaco, que atua basicamente com a exportação, outros setores podem ser prejudicados pela decisão de sobretaxar os produtos brasileiros. Um dos exemplos é a santa-cruzense Imply Tecnologia. A empresa participou, entre 29 de junho e 3 de julho, da Bowl Expo 2025, em Washington DC – o maior e mais importante evento de boliche do mundo –, buscando ampliar a presença no mercado norte-americano. Para isso, apresentou soluções que modernizam a experiência de prática do esporte com tecnologia de ponta.
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O CEO da empresa, Tironi Paz Ortiz, diz acreditar que, caso não sejam feitas alterações no que foi anunciado, as negociações com os Estados Unidos podem ser impactadas. “Na iminência de ver se será aplicada a taxa de 50%, fica impossível competir no mercado norte-americano”, alertou. Enquanto os governos encaminham as negociações, a Imply busca formas de viabilizar a manutenção para o mercado dos EUA, mas sem vislumbrar nenhuma iniciativa, por enquanto.
Além de afetar as negociações futuras das empresas, a medida anunciada por Donald Trump teve reflexos no mercado financeiro e no câmbio. O dólar fechou acima de R$ 5,50 pela primeira vez desde o fim de junho. A bolsa de valores caiu mais de 1% e emendou a terceira perda consecutiva.
O dólar comercial encerrou a quarta-feira ,10, vendido a R$ 5,503, com alta de R$ 0,058 (+1,06%). A cotação operou com pequena alta até por volta das 14h30, mas disparou após Trump ameaçar impor uma tarifa aos produtos brasileiros nos Estados Unidos.
No fim da tarde, o dólar subiu ainda mais após Trump divulgar a carta em que anunciou a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros nos Estados Unidos a partir de agosto. A última vez que a moeda norte-americana fechou acima de R$ 5,50 havia sido em 25 de junho. Com o desempenho de quarta-feira, a moeda passou a subir 1,26% em julho. Ontem o dólar teve ligeira alta, sendo negociado a R$ 5,5427, após as repercussões do anúncio da Casa Branca e a imediata resposta de reciprocidade fiscal por parte do governo brasileiro.
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A bolsa de valores também foi impactada. O índice Ibovespa, da B3, fechou aos 137.481 pontos, com queda de 1,31%. Quase todas as ações caíram, em dia de liquidez baixa por causa do feriado de 9 de julho em São Paulo. Ontem girou em torno dos 136 mil pontos, com queda de 0,46%.
Os Estados Unidos são o segundo melhor mercado para o Brasil em exportação, com movimentação de US$ 20 bilhões no primeiro semestre. Fica atrás da China, que superou os US$ 47,8 bilhões. O terceiro é a Argentina, com US$ 9,1 bilhões.
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