Na propriedade rural em que Ana Carolina Weber, 18 anos, vive com os pais, a produção de milho e alimentos para autoconsumo já divide espaço com a fumicultura. A diversificação agrícola é uma das alternativas que a estudante da Escola Família Agrícola de Vale do Sol (Efasol) tem implantado nas terras da família. “Estou tentando diversificar mais a propriedade para ter maior rentabilidade e ser menos dependente da cultura do tabaco”, contou.
Essa é uma das opções fomentadas pela agroecologia, campo do conhecimento que Ana tem trabalhado em sala de aula. Ela explica que essas soluções são estudadas durante o Projeto Profissional do Jovem (PPJ), instrumento pedagógico que une teoria e prática no campo e integra o currículo da escola.
No 6º Seminário de Agroecologia do Vale do Rio Pardo, que reuniu nessa quarta-feira, 26, cerca de 200 pessoas na sede da Cooperativa Origem Camponesa, no Distrito Industrial de Santa Cruz, a diversificação agrícola ganhou voz nas conversas entre estudantes, profissionais técnicos da agricultura e agricultores. Destaque para a participação de alunos da Efasol e da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc), que levaram mais de cem pessoas ao evento. Para muitos deles, o seminário funcionou como um ponto de encontro entre a sala de aula e a terra.
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Ana destaca que a agroecologia aprendida na escola é o que ela vivencia em seu cotidiano, em casa. “A agroecologia é o todo. É a agricultura familiar, é o lazer que temos. Nela aprendemos a cultivar a semente, saberes populares, as criações e tudo o mais.”
Os alunos trouxeram relatos que traduzem o efeito prático desse aprendizado. Kamily Borges dos Santos, 17 anos, e Igor Müller, 16, da Efasc, falaram da alegria de reencontrar sementes tradicionais e da responsabilidade de carregá-las adiante.
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“Isso enche o nosso coração de alegria, porque a gente tem a certeza que vai continuar isso, que temos a oportunidade de pegar essas sementes e levar para nossa propriedade, reproduzindo elas e continuando um legado na família”, disse Kamily.
Igor, que já monta um catálogo com mais de 180 variedades de sementes, conta como elas são recuperadas na escola, voltam à produção agrícola da família e mudam práticas. “Ano após ano, a gente tá vendo a diferença, a mudança que dá na propriedade, a diminuição do tabaco e a família dando espaço para prosseguirmos, que é o que realmente importa”, reforçou.
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Ao longo do seminário, os organizadores também destacaram que a agroecologia é uma estratégia de resiliência diante de eventos climáticos extremos. “A agroecologia tem muitas saídas e possibilidades para os agricultores resistirem e se resguardarem dos efeitos adversos do clima”, afirmou José Antônio Schmitz, um dos responsáveis pela seminário. Ele ainda convocou o debate sobre a recuperação de solos afetados pelas enchentes recentes e a importância de bancos de sementes e de adubações verdes.
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Maurício Queiroz, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), trouxe da COP30 a leitura política que envolve essas soluções. “A cúpula dos povos é mais a ‘COP do povo’, digamos assim”, afirmou. Segundo ele, a aposta nas práticas diversificadas é o caminho de defesa de territórios e saberes.
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A semente, especialmente a crioula, foi tema recorrente durante o seminário. Entre mesas e sacos, Marcos Matheus, da Cooperativa Origem Camponesa, resumiu o alcance do trabalho. “Trouxemos mais de 35 variedades de sementes”, detalhou. Esse volume representa parte da produção da Unidade de Processamento de Grãos (UBS) da cooperativa, localizada em Encruzilhada do Sul, que chega a 400 toneladas de grãos ao ano.
Ele descreveu variedades menos comuns no mercado, como o feijão mungo, conhecido como “feijão de sopa”, que é cultivado com a ajuda de adubações verdes, como os grãos de diatomáceas, os quais auxiliam de forma sustentável no controle de pragas, sem veneno. Marcos também detalhou a importância de recuperar solos degradados a partir de práticas agroecológicas para fomentar a produção.
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