Abertura oficial da colheita ocorreu nessa sexta-feira e foi marcada pela preocupação com os rumos da atividade
O produto que está entre os líderes de exportação pelo Rio Grande do Sul, que coloca o Brasil como o segundo maior produtor mundial e o maior exportador há mais de 30 anos, viveu na tarde de sexta-feira, 7, um de seus momentos emblemáticos. Dentro do pavilhão do Parque da Expoagro Afubra, em Rincão Del Rey, Rio Pardo, ocorreu a solenidade da abertura oficial da colheita do tabaco.
Promovida pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco) em parceria com o governo do Estado, a cerimônia mostrou a relevância econômica e social do setor, além da união entre os atores da cadeia produtiva. Produtores, representantes das indústrias de transformação, entidades e políticos evidenciaram o apoio necessário, sobretudo pela expectativa de realização da Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (COP-11).
A preocupação do setor, diante de um eventual posicionamento brasileiro restritivo à produção, ficou evidente nas falas. Houve garantias de que haverá representação desse segmento em Genebra, na Suíça, onde será realizada a COP, nos dias 17 a 22 deste.
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Mas nem só de preocupação foram as manifestações. Evidenciou-se o potencial de geração de renda para as famílias, a relevância para o poder público e o resultado da diversificação e preservação das propriedades.
Como há uma variação muito ampla entre as regiões produtoras de tabaco quanto aos períodos de plantação e colheita, segundo o presidente da Câmara Setorial do Tabaco, Romeu Schneider, ainda não é possível definir a produtividade para a safra atual. Ele acredita que o clima, sobretudo no Vale do Rio Pardo, possa prejudicar a formação de boas folhas porque as noites foram frias, o que incentiva a floração da planta e esse é um complicador.
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“Estive na região do interior de Venâncio Aires e deu para ver que o produtor, em função do clima, deixou para mais tarde a produção. Assim, ainda está pequeno na lavoura”, salientou.
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Enquanto aguarda-se a confirmação da produtividade, o que se sabe é que houve aumento da área plantada. Isso pode compensar eventual redução nos resultados por hectare. Além disso, a expectativa é de que represente um produto de boa qualidade.
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Schneider reforçou que o setor está atento ao desempenho, pois em umas regiões já há produto colhido, enquanto outras fizeram a plantação recentemente. Esse processo tem ampliado o período da safra, entre a produção de mudas e a transformação na indústria.
Durante a solenidade da abertura oficial da colheita do tabaco, o secretário de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Edvilson Brum, assinou o acordo de cooperação técnica do Programa Tabaco é Agro: Diversificação das Propriedades.
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Brum reforçou que o setor já é o que mais implanta na propriedade a produção de múltiplos cultivares. Por vezes, é intercalado com o tabaco durante o período de resteva, em outros casos ocupa outras áreas, em formato de rodízio.
“O produtor que mais diversifica a sua propriedade é o que planta o tabaco, que tem galinha, ovos, porco, floresta de eucalipto, preserva suas nascentes, é ambientalmente correta. Ele mantém seus filhos na escola, porque se tiver muitas faltas o produtor perde o contrato com a empresa”, enfatizou Brum.
Ele reforçou que o tabaco gera renda e oportunidade, como nenhuma outra atividade, para aqueles que possuem menor área de terra. “É agricultura familiar na veia; dinheiro para os agricultores familiares”, resumiu o secretário.
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Ele antecipou que vai representar o governo do Estado durante a realização da COP-11, em Genebra. Será a oportunidade de apresentar esse potencial no desempenho econômico e social. Para isso, Brum pediu união do setor produtivo.
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A cada ano, o evento da abertura da colheita do tabaco é realizado em um município diferente. Desta vez seria na propriedade da família Barros, em São José da Reserva, em Santa Cruz do Sul. A previsão de chuva intensa em função de um ciclone que está sobre o Estado fez com que a programação fosse transferida para o pavilhão do Parque da Expoagro Afubra.
A distância na propriedade não impediu que o tabaco produzido por Anderson Rafael da Silva Barros, de 35 anos, sua esposa Débora Roberta Winck Barros, 29, e seus pais Jair Rodrigues, 63, e Ceni da Silva de Barros, 56, fosse colhido. A equipe da organização montou uma minilavoura com plantas exemplares dentro do pavilhão.
A tradição da família na cadeia do tabaco já dura 35 anos, quando o pai mudou-se de Rio Pardo para Santa Cruz. Os resultados do trabalho fizeram com que fossem crescendo, ao ponto de ampliar dos sete hectares iniciais até os atuais 28,8. Destes, sete são dedicados ao tabaco.
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Em outras épocas, recorda Anderson, eles chegaram a plantar 155 mil pés. A quantidade foi reduzida, mas tem representado qualidade. Na safra atual são 110 mil pés. “Tivemos muita chuva no início. Esperava uma safra ‘normal’, mas podemos ter uma redução na produtividade”, avalia.
A conclusão leva em conta que já está fazendo a colheita, tendo retirado o baixeiro e em preparo o segundo apanho. Parte do serviço é feito com auxílio de uma máquina, mas como houve muito vento no período, em determinados locais não será possível usar a inovação, que chegou à propriedade em 2024. A secagem é feita em três estufas de grampos.
O diferencial está na irrigação. Os Barros faziam uso do mecanismo em outros cultivares como soja e milho e passaram a adotar também no tabaco, o que trouxe melhores resultados. Mesmo assim, o pai encaminha a aposentadoria da lavoura, algo que não passa pela cabeça do filho, exemplo de sucessão rural.
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O presidente da Afubra, Marcilio Drescher, destacou que o setor passa por um momento de ansiedade, mas que o fato de o evento de abertura da colheita seguir na agenda oficial do governo do Estado é um indicativo da relevância do setor. “Os produtores de tabaco também produzem muito alimento para o Sul e para o Brasil”, acrescentou.
O presidente do SindiTabaco, Valmor Thessing, lamentou o fato de que embora o Brasil seja o segundo maior produtor e maior exportador do produto, gera estranheza a posição do governo brasileiro, que costuma liderar ações contrárias ao setor.
O deputado federal Heitor Schuch (PSB) disse que o setor tem um desafio ainda maior, que é a participação na COP realizada na sede da Organização Mundial da Saúde. “Vamos lá mostrar para eles que a vitória terá um pouco mais de suor, mas vamos dizer que ninguém vai mexer na fumicultura”, adiantou.
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Proponente de subcomissões na Assembleia, o deputado Marcus Vinícius (PP) apontou que é uma reunião que faz um julgamento sem direito ao contraditório. “Ao longo de 20 anos, essa política não atende os produtores, incentiva o crescimento do contrabando e a ampliação do preconceito”, resumiu.
Edivilson Brum disse que o momento é de unir esforços. “Que a nossa união seja maior do que as diferenças partidárias e ideológicas; que a disputa fique restrita aos 45 dias de campanha.”
O prefeito Sérgio Moraes (PL) acrescentou o fato de que a Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (Conicq) foi extinta com o trabalho do deputado Marcelo Moraes (PL) e do senador Luís Carlos Heinze (PP), mas restabelecida no atual governo.
O deputado Airton Artus (PDT) mostrou-se indignado com o tratamento diferenciado. “Temos combustíveis fósseis, alimentos ultraprocessados, medicamentos falsos, mas no meio político há preconceito contra a indústria e o produtor do tabaco”, citou.
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