Agronegócio

“O atual governo federal tem adotado uma postura distante do setor”, diz Kelly Moraes

A deputada Kelly Moraes (PL) é uma das históricas defensoras da cadeia produtiva do tabaco no Parlamento. O seu perfil de atuação ganhou destaque quando ocupou cadeira na Câmara Federal e agora na Assembleia Legislativa. Mesmo dizendo não se intimidar, afirma ter recebido críticas e sofrido preconceito em função deste posicionamento.

Às vésperas de mais uma Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (COP), ela vê com insegurança o encontro entre os representantes de países em Genebra, na Suíça. Isso porque, no seu entendimento, o evento tem características pouco democráticas, ao não permitir acesso daqueles que representam o setor produtivo. “Como podemos discutir o futuro de uma cadeia produtiva sem ouvir quem realmente vive dela?”, questiona.

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Apesar de não ter previsto ida à sede do encontro, Kelly adianta que o deputado federal Marcelo Moraes (PL) acompanhará e levará o posicionamento de ambos. Ela defende que a Assembleia Legislativa tem papel fundamental na manutenção de debates, realização de audiências públicas e moções de apoio aos produtores. Além disso, entende ser o órgão que pode cobrar transparência nas posições do governo federal. Não vê, porém, a possibilidade de que o Palácio do Planalto tome alguma posição menos prejudicial ao produtor. Entende que é uma questão ideológica, que se sobrepõe ao interesse dos agricultores.

Entrevista – Kelly Moraes, deputada estadual

  • Gazeta do Sul – Historicamente, a senhora é uma defensora da cadeia produtiva do tabaco, mas o número de parlamentares que têm coragem de assumir essa responsabilidade sempre foi pequeno. Esse posicionamento já lhe trouxe algum contratempo no Parlamento? A senhora percebe aumento do número de deputados nessa defesa?
    Kelly Moraes – Sem dúvida, defender o setor produtivo do tabaco exige coragem e firmeza de convicção. Já enfrentei críticas e até certo preconceito de quem não compreende a importância social e econômica dessa cadeia, principalmente aqui no Rio Grande do Sul, onde milhares de famílias vivem dessa atividade. Mas nunca me intimidei. Sempre digo que defendo um produto legal, que gera empregos e paga impostos. O número de parlamentares que defendem o setor cresceu pouco ao longo dos anos. Ainda é muito pequeno para a relevância do tema.
  • A participação de representantes do setor produtivo tem sido vedada nas reuniões da Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (COP). Qual a sua opinião sobre essa medida?
    Considero isso um absurdo. As decisões que impactam a vida de milhares de produtores e trabalhadores estão sendo tomadas sem que eles tenham voz. Isso é antidemocrático. Como podemos discutir o futuro de uma cadeia produtiva sem ouvir quem realmente vive dela? Essa exclusão enfraquece o debate. É essencial que o Brasil defenda a presença dos produtores nas discussões internacionais.
  • De que forma a senhora acredita que a Assembleia Legislativa possa apoiar o setor produtivo, tendo como foco a COP que se avizinha?
    A Assembleia Legislativa tem um papel fundamental. Podemos e devemos continuar promovendo debates, audiências públicas e moções de apoio aos produtores, cobrando transparência nas posições do governo federal e fortalecendo a representatividade do setor. Também é importante mantermos interlocução direta com os ministérios e a bancada federal, para que o Brasil chegue à COP-11 com uma posição equilibrada, que não destrua uma cadeia produtiva que garante sustento a tantas famílias.
  • A senhora tem expectativa de ir a Genebra, na próxima semana, para participara da COP-11?
    Não pretendo participar presencialmente. O deputado federal Marcelo Moraes vai participar e levar a nossa posição, a defesa que a nossa família sempre fez dos produtores e do setor.
  • A senhora acredita que o governo federal possa rever seu posicionamento restritivo e tomar alguma atitude em defesa do setor produtivo?
    Eu espero sinceramente que sim, mas confesso que não acredito nisso. O atual governo tem adotado uma postura distante do setor e, muitas vezes, ideológica.
    No entanto, ainda há tempo para corrigir o rumo e adotar uma posição mais equilibrada, que leve em conta a importância econômica e social do tabaco, especialmente no Sul do País.
    O governo precisa entender que não se trata apenas de um produto. É sobre famílias, sobre produtores, sobre emprego no campo e renda no interior.
  • A Assembleia realizou encontros regionais sobre o acompanhamento da COP-11, neste ano, e de reconhecimento sobre a cadeia produtiva, em 2024. A senhora teve oportunidade de acompanhar? Quais foram os principais apontamentos dos produtores?
    Sim, acompanhei de perto vários desses encontros. O que mais ouvimos foi o sentimento de preocupação e insegurança. Os produtores estão cansados de serem tratados como vilões, quando, na verdade, são exemplos de organização, sustentabilidade e eficiência. Eles pedem respeito, informação e representatividade.
  • Com base no que já se sabe sobre posicionamento do governo brasileiro e dos organizadores da COP, a senhora acredita que o setor possa ter mais algum tipo de restrição ou ser prejudicado de alguma forma?
    Infelizmente, sim. Tudo indica que novas restrições estão sendo discutidas, e isso preocupa muito. A falta de diálogo e a ausência de representantes do setor nessas decisões criam um ambiente de insegurança. O risco é grande de vermos políticas internacionais sendo impostas sem considerar a realidade dos países produtores.
    O que defendemos é equilíbrio: queremos políticas públicas de saúde responsáveis, mas também a preservação da renda de milhares de famílias que trabalham de forma honesta e não podem ser perseguidas.

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Marcio Souza

Jornalista, formado pela Unisinos, com MBA em Marketing, Estratégia e Inovação, pela Uninter. Completo, em 31 de dezembro de 2023, 27 anos de comunicação em rádio, jornal, revista, internet, TV e assessoria de comunicação.

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