Neste dia de Natal, o mundo parece falar uma única língua: a da felicidade. As luzes piscam como promessas, as mesas se preparam para o encontro, e há uma expectativa silenciosa de que todos estejam bem. Mas nem sempre o coração acompanha o calendário. Para muitas pessoas, o Natal não é sinônimo de festa, onde a dor se torna mais audível e o silêncio mais pesado.
É nesse contexto que emerge a chamada depressão de Natal. Um sofrimento real, profundo, que não nasce da falta de amor ou de gratidão, mas do excesso de ausências. Ausência de quem partiu, de quem se afastou, de quem nunca pôde estar. O Natal tem esse poder: ilumina o que falta. E, ao fazê-lo, pode reabrir feridas que o resto do ano manteve adormecidas.
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Neste dia de Natal, há quem sorria por obrigação, quem se recolha por exaustão e quem apenas tente atravessar as horas sem desmoronar. A pressão social para estar feliz pesa. As comparações aumentam. As redes sociais exibem uma alegria padronizada, quase impecável, enquanto muitos vivem uma batalha íntima contra a tristeza, a ansiedade, o vazio e a sensação de não pertencimento.
A depressão de Natal não é fraqueza. É um sinal de que algo precisa de cuidado. A saúde mental não obedece às datas festivas e não responde a frases prontas. Ela pede escuta, tempo e acolhimento. Pede, sobretudo, que se respeite o limite de cada um. Nem todo mundo consegue celebrar. E deixar isso existir já é um gesto de ser humano no mundo.
Talvez seja preciso ressignificar o Natal. Torná-lo menos performático e mais verdadeiro. Menos exigente e mais compassivo. Um Natal que permita estar como se está. Que não imponha alegria, mas ofereça presença. Que não silencie a dor, mas a acolha sem julgamentos.
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Neste dia de Natal, a mensagem mais importante pode não estar nos grandes discursos, mas nos pequenos gestos: uma escuta sem pressa, um olhar atento, um “estou aqui” dito com verdade. Para quem sente que o peso está grande demais, buscar ajuda profissional é um ato de coragem e cuidado consigo mesmo.
Que o Natal não seja uma prova de felicidade, mas um convite à empatia. Que a luz externa não ofusque a dor interna, mas ajude a iluminá-la com delicadeza. E que, mesmo quando a alegria não chega, haja espaço para o cuidado, para o afeto possível e para a esperança que, ainda que tímida, insiste em permanecer.
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Neste dia de Natal, que possamos lembrar: sobreviver também é uma forma de celebração. E cuidar da saúde mental é, talvez, o gesto mais profundo de amor que podemos oferecer ao outro e a nós mesmos.
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