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No início de 1993, deixei a Embaixada da Tchecoslováquia, em Moscou. Na fachada, assim como no carimbo do visto em meu passaporte, estava o escudo de um país que havia deixado de existir há poucas semanas, em uma amistosa divisão entre as repúblicas tcheca e eslovaca, oficializada em primeiro de janeiro daquele ano. O chamado Divórcio de Veludo é uma referência à Revolução de Veludo, que derrubara o regime comunista da Tchecoslováquia pouco tempo antes, em 1989.
Os eslavos chegaram à região entre os séculos 5 e 6. A partir daí, o território passou por sucessivas dominações: Reino da Morávia, Império Húngaro, invasão mongol que destruiu boa parte do país, os influentes Habsburgos e, mais tarde, os otomanos, nos séculos 16 e 17. Com a independência da Hungria, país que incluía o território eslovaco, a nação pôde finalmente consolidar sua identidade, especialmente durante o Levante Eslovaco (1848-1849). Ainda assim, o país seguiu sob dominação húngara.
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A Primeira Guerra Mundial trouxe o colapso do Império Austro-Húngaro e a oportunidade de independência para os vizinhos Tchéquia e Eslováquia, que resolveram se unir. A Tchecoslováquia foi proclamada em 1918 e o território atual dos dois países foi incorporado em 1920. Pouco antes de eclodir a Segunda Guerra, em 1938, o país foi encampado pela Alemanha nazista, e só se restabeleceu no final do conflito, em 1945. Três anos depois, um golpe patrocinado pela União Soviética transformou a Tchecoslováquia em um estado comunista.
Em 1968, um movimento de protesto que tentava romper com a influência soviética ficou conhecido como Primavera de Praga, que acabou sufocado por uma invasão de países do Pacto de Varsóvia. Finalmente, em 1989, a Revolução de Veludo foi um prelúdio para a dissolução da Tchecoslováquia, que, em 1993, criou dois estados democráticos independentes.
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A República Eslovaca (Slovenská Republika) é um dos menores países da Europa, com 5,4 milhões de habitantes, em uma área comparável à do estado brasileiro do Espírito Santo. Confirmando a confiança que senti em minha primeira visita, há mais de três décadas, Bratislava floresceu mais que as demais capitais da Europa Central.
A economia do país se desenvolveu com políticas progressistas, educação e saúde gratuitas, em um salto que proporcionou a adesão à União Europeia, à Otan e à zona do Euro. Um exemplo do seu avanço é a indústria automobilística: com 1,2 milhão de veículos de passeio saindo de suas fábricas a cada ano, a Eslováquia tem a maior produção de carros per capita do mundo – vinte vezes maior que a brasileira.
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Desde 2023, infelizmente, a política interna tomou rumos preocupantes. O país passou a se aventurar pela extrema-direita, alinhando-se mais à Rússia de Vladimir Putin do que à coalizão ocidental europeia. Junto com a Hungria, a Eslováquia é um dos únicos países europeus que segue comprando gás natural dos russos, mesmo com o embargo decorrente da invasão da Ucrânia.
Entre outros regressos, em 2025 o governo alterou a constituição, retirando vários direitos ligados à diversidade e à inclusão. É crescente a preocupação com os direitos humanos e as liberdades de expressão e de imprensa.
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Política à parte, a Eslováquia é um país fascinante. A paisagem de Bratislava, única capital do planeta que faz fronteira com dois países – Hungria e Áustria –, é cercada por castelos e antigas igrejas de madeira ao longo do rio Danúbio.
No Palácio Primacial, na capital, a Sala dos Espelhos testemunhou as assinaturas de Napoleão e do imperador Franz I da Áustria, selando a chamada Paz de Pressburg, de 1805. Picos nevados das belas montanhas Tatras e milhares de cavernas completam a exuberante natureza da nação.
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Em 1993, ao desembarcar na estação ferroviária de Bratislava, vi um país ansioso para se afirmar. Havia uma pressa nervosa para estabelecer o governo, fortalecer a economia e ressaltar antigas tradições. Sob as torres do Castelo de Bratislava, parei para assistir à troca da guarda.
Os passos descoordenados e os movimentos ainda mal ensaiados me trouxeram um sorriso e, ao mesmo tempo, compaixão por um povo que começava a caminhar com suas próprias pernas. Desde lá, o país avançou a passos largos. Que os recentes retrocessos políticos sejam apenas um tropeço.
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