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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

Por um tempo de serenidade

É impressionante, quando não assustador, como andamos quase sempre à beira da explosão. Qualquer comentário, qualquer observação um pouco discordante do nosso modo de pensar nos flagra com o palito de fósforo aceso para prender fogo nesse atrevido tanque de gasolina a nos provocar. Parece que necessitamos de intermináveis conflitos para nos afirmar, para sermos felizes desse jeito.

Quantas vezes me arrependi por, no impulso, reagir a provocações que neste tempo de franqueado ringue das redes sociais grassam a mancheias. O velho e saudável conselho de que sopa quente se toma pelas bordas acaba esquecido, enfiamos a colher de qualquer jeito e estamos sempre na iminência de nos queimar. No livro bíblico dos Provérbios (20, 3), lemos que “é uma glória para o homem abster-se de contendas; o tolo, porém, é o único que as procura”.

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Tenho uma lista de possíveis temas para abordar nesta coluna. Um dos primeiros que anotei, também derivado de Horácio, é in medio virtus, que pode ser traduzido como a virtude reside no meio, não nos extremos. Alguns admitem entender isso como alienação, ficar em cima do muro, outros como cautela, precaução, equilíbrio, respeito, serenidade. O Arcadismo, movimento literário do século 18, opondo-se ao estilo retorcido do Barroco, propõe uma arte de simplicidade, sem exageros, defendendo a aurea mediocritas, ou seja, uma mediania sensata, uma vida e uma arte equilibradas, harmoniosas, sem embates desgastantes e desnecessários.

Uma boa educação, por exemplo, pede esse equilíbrio: nem rigor em excesso, nem frouxidão liberada. O rigor em excesso promove a revolta, a frouxidão liberada gera irresponsabilidades. Uma boa convivência social demanda respeito aos direitos e cumprimento dos deveres. Chama a atenção, nas redes sociais e em outros meios, como há ataques gratuitos, sem fundamento algum, eivados de ódio, ignorância e rancor. O que vale é derrubar o outro, espezinhar, humilhar, reduzir a pó. Percebemse verdadeiras patrulhas de plantão, à espreita de um comentário adverso, uma discordância mínima, uma ameaça ao pensamento único. A mediania não é admitida nesse palco de conflitos.

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