O Brasil, desde 2023, celebra com feriado nacional o Dia de Zumbi e da Consciência Negra, em 20 de novembro. Muitos questionaram o fato de ter sido adotado mais um feriado, em um país que já interrompe a rotina tantas vezes. Boa parte das manifestações diz respeito à consciência negra. Exploram o pressuposto de que levantar o assunto é ampliar a possibilidade de racismo, em um entendimento de que se ficasse esquecido, simplesmente deixaria de existir. Ledo engano.
O excesso de feriados decorre, em muito, da falácia de que estamos em uma pátria laica. Que laicidade é essa que determina o 12 de outubro como Dia de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil? Somos um país laico que tem padroeira? O questionamento é só uma forma de reflexão, pois se há uma santa que tem meu apreço e devoção, é Nossa Senhora Aparecida.
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Mas sobre o assunto deste texto – a necessidade de refletir sobre a relação dos seres humanos – é preciso acabar com outra certeza infundada em nosso país: a de que “não há racismo no Brasil”. Como assim? Quer dizer que pretos e brancos têm as mesmas oportunidades, que vivem em condições iguais, que são vistos da mesma forma na sociedade? Será mesmo?
Sou branco e essa condição talvez nunca me possibilite saber, de fato, o que sente uma pessoa preta sobre a forma como os demais agem. Nunca terei no supermercado ou em alguma loja bacana os olhares atentos dos seguranças. Ao chegar em algum estabelecimento, virão me atender querendo saber o que desejo comprar e não com o olhar que questiona o que estaria fazendo ali.
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Fico extremamente chateado em pensar que alguém vê no outro a cor da pele e não da alma; que enxerga a origem e não o ser que está a sua frente. Moacyr Luz compôs e Beth Carvalho gravou uma música que é um tapa na cara de quem ainda não percebeu que todos são diferentes, mas o que nos diferencia é o caráter e não a cor da pele. “Preto pega surf, pega praia; preto pega jacaré; preto vê vitrine, olha o magazine; compra se quiser. Estranhou o quê? Preto pode ter o mesmo que você.”
O que me deixa menos triste, com o passar dos anos, quando reflito sobre a questão do racismo, é que a comunidade negra, hoje, está orgulhosa do seu cabelo – lindo e cheio de personalidade – e usa as cores que gosta de usar e não aquelas impostas por uma moda ainda mais racista e cruel. Chega daquele tempo relatado por Sandra de Sá: “Você ri da minha roupa; você ri do meu cabelo; você ri da minha pele; você ri do meu sorriso.”
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O brasileiro é miscigenado, uma mistura de cores e de presenças, de gente que trabalhou para transformar o pouco em tudo isso que temos; de lembranças de quem morreu por ser preto ou pardo, mas de quem acredita que ainda é possível mudar. Não somos brancos, amarelos, pretos, pardos. Somos humanos. Portanto, quando perguntarem a sua raça responda com orgulho: raça humana.
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