Muitos anos atrás, estando sozinho, comprei uma casa em Ipanema, na Rua Flamengo, na zona sul de Porto Alegre. Decidi cercar todo o pátio, fiz um galinheiro, comprei uma galinha, um galo e vários pintinhos. De manhã cedo, os tratava e depois ia ao Tribunal. Voltava ao fim da tarde, passava num mercadinho onde buscava restos de verduras, trocava a água e realimentava o bicharedo.
Perto de mim, morava um casal bem velhinho, do qual fiquei muito amigo. Assim, quando eu queria pernoitar fora ou viajar, entregava as chaves ao seu Aureliano e à dona Mathilde. Tratavam-me como filho. Às vezes, seu Aureliano vinha na minha casa escondido para tomar uma ou duas cervejas comigo. Dona Mathilde se irritava pois sentia o bafo do marido.
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Peguei meu carro e levei a pintinha sobrevivente para a casa de minha mãe em Santa Cruz do Sul que, como vocês devem ter lido aqui na Gazeta, criava galinhas no pátio a duas quadras da Catedral. Dona Ludmilla adotou a pintinha, que se transformou numa bela galinha, que namorou, teve pintinhos e nunca tivemos coragem de matá-la. Acabou falecendo de morte natural.
Só voltei a lidar com galinhas depois que comprei a fazenda em consórcio com minha mulher, Maristela, também apaixonada por tudo quanto era ser vivo. Vejo mais claro agora como leva tempo recuperar a fauna em caso de destruição.
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Já se passaram vários anos e até hoje é raro o aparecimento desses simpáticos animais. Calculo que os raros que existem vieram migrando de outras localidades distantes. Mas o pior aconteceu por falta de esclarecimento. Eu mesmo ouvi, na fila de vacinação, várias pessoas dizendo que iam matar todos os bugios “porque eles trouxeram a febre amarela”, quando na verdade eles serviram de alerta da doença.
A fauna está caminhando em passos irreversíveis para o indesejável. É demais a sujeira do “homo burraldus” e a troca das noites pelos dias.