Sob este título, poderia elaborar vários parágrafos iniciais. Quantos motivos teríamos para esbravejar contra as coisas que acontecem ao nosso redor, algumas à margem do nosso poder de ação, outras que se esparramam à nossa frente, pedindo uma posição.
Vou me ater à segunda alternativa. A que nos dá o arbítrio, o direito de tentar acertar ou nos sujeitarmos a errar. Duvido que você, como eu, já não tenha se arrependido de alguma escolha. É da vida, sempre me disseram. E também me ensinaram que a gente precisa assumir o que faz. Dói, mas esse é o preço que se paga por poder escolher.
Até certa altura da vida, me impressionava e me deixei influenciar por discursos. A boa oratória sempre me cativou. Talvez porque seja introspectivo, aprecio e valorizo muito a quem tem o dom da palavra.
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Primeiro equívoco: um bom discurso, contagiante, no campo da política, quase sempre é mera roupagem. E eu confesso, já me deixei seduzir por argumentos falaciosos, por promessas que hoje considero inqualificáveis. A tal ponto que, certa vez, me arrependi da minha escolha ainda no final do dia da votação, depois de ouvir as primeiras declarações (infelizes!) do candidato vencedor que ajudei a eleger.
Graças a Deus, em muitas decisões fui iluminado. Há, sim, gente boa, bem-intencionada e comprometida na política. E alguns ajudei a eleger.
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Mas também preciso falar de tantos outros a quem confiei meu voto e que traíram promessas, rasgaram convicções e princípios, pisotearam a própria honra. Faça essa reflexão: você se sente representado por quem elegeu? Aliás, lembra em quem votou nas últimas eleições?
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Isso remete a um segundo equívoco: achamos que o mais importante é eleger nossos candidatos a presidente, a governador, prefeito. Mas o poder deles é relativo: está escrito na Constituição que eles precisam da autorização dos nossos representantes no Legislativo para avalizarem suas determinações.
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Bobagem. Os tais “representantes no Legislativo” – que nós elegemos – são figurantes descredenciados e humilhados nos altos escalões por um Judiciário ativista que se intrometeu na política e bagunçou o nosso regime democrático.
Tudo isso com a complacência e permissividade do nosso Congresso Nacional. Aliás, você sabe quem são os senadores que falam (ou deveriam falar) pelo nosso Estado? Sabe quanto custa cada um desses pseudorrepresentantes para os nossos bolsos? Módicos R$ 570 mil por mês. Mais de meio bilhão por ano! Está bom pra você?
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Aí tente perguntar ao seu senador e ao seu deputado: por que – avalizados por milhares, talvez centenas de milhares de votos – se acovardam perante uma toga prepotente? Têm medo de quê? Como ficamos nós, os eleitores, que os credenciamos a falar por nós?
Estamos desamparados. Desiludidos. Nossos representantes no Congresso vez e outra aparecem sob o carimbo de uma emenda parlamentar. Dinheiro nosso – não deles, é importante enfatizar – que nem deveria ter saído daqui, mas que volta a conta-gotas com a assinatura de um “benfeitor”. Palmas!
Às vezes até ensaiam um “faz de conta”, aprovam uma medida a muito custo, e um juiz, com voto monocrático, anula uma decisão que representou milhões de votos. Esse é o fato.
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Enquanto tivermos um Congresso Nacional conivente e submisso, que se acoca diante de uma toga e renuncia à Constituição, não esperemos nada deste País. Nós elegemos o presidente, o senador, o deputado. Mas quem manda é o Judiciário, que não elegemos.
Viva a democracia! Quanta hipocrisia!
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