E daí que ainda nem tinha me dado conta. Mas é verdade, de 12 já vamos para o mês sete. E para o fim do ano é um pulo.
Puxo pela memória e olho no retrovisor: o que este ano já nos proporcionou em termos de evolução, de conquistas, de melhorias, essas coisas que almejamos e a que nos credenciamos em cada virada de ano?
É claro – e felizmente – haverá quem está festejando seu êxito no âmbito pessoal. Quem sabe, o emprego tão ambicionado, a promoção enfim sacramentada, a safra bem-sucedida, o tratamento da saúde que deu certo, uma infinidade de motivos. Todos temos os nossos.
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Mas como coletividade, o que temos para saudar?
Vamos falar de Santa Cruz do Sul e das nossas angústias que, não por acaso, foram assunto recorrente na sucessão municipal. A estrutura de saúde pública, por exemplo. Eu não duvido das intenções dos gestores, mas também não me iludo com promessas que simplificam a solução de um problema tão complexo.
Falou-se exaustivamente em centralizar todo o atendimento, de simples a alta complexidade, em um único ambiente: uma estrutura modelo, com profissionais especializados e um aparato tecnológico de ponta para dar suporte às demandas de todos os cidadãos.
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Palmas! Todos queremos e aprovamos. O que temos? Hospitais, UPAs, Cemai, Esefs, todos os canais de atendimento ao cidadão postos à prova, alguns lotados, outros esgotados. Multiplicam-se as demandas, faltam recursos, faltam médicos e profissionais de apoio para uma atenção básica. E essas questões não dependem só da boa vontade dos gestores, porque são complexas por natureza. E por isso mesmo não deveriam ser tema de promessas para não atormentar o imaginário de pessoas que só querem ter seus direitos básicos atendidos.
Saúde à parte (porque esse assunto é inesgotável) ecoam em nossos ouvidos temas como mobilidade, estacionamento, essas coisas que incomodam o cidadão no dia a dia. O que vai ser de nós logo adiante se hoje já convencionamos que “não dá pra ir ao Centro depois das 10 horas da manhã e, muito menos, no final da tarde, porque não há vaga para estacionar”?
Esquece. Ache outra maneira, porque logo você não vai mais estacionar no Centro. Nem próximo, como já acontece hoje. A não ser que deixe seu carro em um estacionamento pago que, por certo, não será subterrâneo.
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Talvez isso motive usuários e empresas a repensarem o conceito de transporte público. Por que não se ajusta roteiros à demanda, com ônibus, sim, mas também com vans ou micro-ônibus, nos moldes dos APPs, com tarifas atrativas, subsidiadas pelo Poder Público, se necessário, e que incentivem a deixar o carro em casa?
Alguém vai perguntar: você estaria disposto a aderir a esse sistema? Talvez hoje ainda não, porque me sinto em plenas condições para dirigir o carro e porque, aposentado, na maioria das vezes posso escolher o horário para atender aos meus compromissos. E também porque moro perto do Centro.
Mas eu estaria disposto, sim, a repensar o modelo superado que me faz sair de casa com o carro achando que vou estacionar à frente do estabelecimento, da loja, do hospital, do consultório. E que me estressa, me faz dar voltas e mais voltas e, no final, me obriga a caminhar por alguns quarteirões para chegar ao destino. Por certo exausto, pernas doendo, esbravejando contra o trânsito, que não tem nada a ver com isso. Porque o trânsito somos nós.
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Os carros não saem de casa. Saímos nós e nossas expectativas e ilusões.
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