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Pelo mundo: Chipre: uma ilha, dois países, inúmeras histórias

Uma pequena ilha no Mar Mediterrâneo guarda uma história milenar, múltiplas influências e uma fronteira singular que divide o território. A maioria dos 4 milhões de turistas que a visitam anualmente estão mais interessados em suas praias, seu clima e sua excelente culinária. Contudo, para quem deseja entender a história e a cultura do Chipre, é preciso retornar a alguns episódios históricos dos últimos três milênios.

Desde os tempos antigos, a localização estratégica faz da ilha um polo natural de comércio e transporte. A atração começou na Idade do Bronze, com incursões da civilização minoica de Creta. O principal motivo era o próprio bronze, já que o local continha ricas reservas da matéria-prima da liga metálica, o minério de cobre. Como sempre acontece, com a riqueza, vieram invasões e disputas.

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O Império Aquemênida – Primeiro Império Persa – dominou a ilha entre 525 e 330 a.C. Com a derrocada dos persas de Ciro, provocada por Alexandre, o Grande, o Chipre se associou ao reino helenístico ptolemaico, época em que a cultura local se tornou fundamentalmente grega. Em 58 a.C., Roma anexou a ilha, dominação que durou até o ocaso do Império Romano do Ocidente. De acordo com os evangelhos, o Chipre foi o primeiro destino de São Paulo (45 d.C.) em sua jornada missionária que solidificou o cristianismo. É também a terra natal do apóstolo São Barnabé.

Aidir junto à Pedra de Afrodite, lendário local de nascimento da deusa grega

Na virada do primeiro para o segundo milênio, os bizantinos assumiram o poder. Durante as cruzadas, o rei inglês Ricardo Coração de Leão tornou-se o mandatário do Chipre, para em seguida vendê-lo aos cavaleiros templários, que, por seu turno, o negociaram com o Rei de Jerusalém, o francês Guy de Lusignan (1150-1194).

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A ilha, contudo, permanecia culturalmente grega. Os venezianos tomaram-na em 1489 e permaneceram por cerca de um século, até os turco-otomanos invadirem com centenas de milhares de soldados. Foi nesse período (1571-1878) que um contingente significativo de colonizadores turcos se mudou para a ilha. Em 1878, os otomanos cederam o Chipre ao Império Britânico, em troca de apoio contra os inimigos russos.

O protetorado durou até 1960, quando os britânicos deixaram a ilha (na realidade, ainda existem duas bases militares do Reino Unido). O arcebispo do Chipre, Makarios III, tornou-se o primeiro presidente do país independente. O período foi turbulento, com várias revoltas dos povos turcos locais. Quando a junta militar que governava a Grécia anunciou a intenção de anexar o Chipre, uma invasão ostensiva da Turquia aconteceu no norte da ilha. Um cessar-fogo foi negociado em 1977 e a ilha foi dividida pela chamada Linha Verde, com tropas da ONU controlando uma zona desmilitarizada entre o lado grego, ao sul, e o turco, ao norte. Povos de ambas as etnias migraram para suas respectivas áreas, em uma das mais dramáticas migrações da história moderna.

Aulas a céu aberto: ruínas de diferentes civilizações cobrem o território cipriota

Em 2004, a República do Chipre, o sul grego da ilha, ingressou na União Europeia. Ao norte, a República Turca do Chipre do Norte declarou independência em 1983, embora até hoje só tenha sido reconhecida pela Turquia.

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Nicósia é sede dos governos dos dois países, hoje a única capital do mundo com uma fronteira. A zona desmilitarizada no trecho urbano tem um quarteirão de largura, onde casas e prédios abandonados fornecem uma cena surreal e congelada no tempo. Trincheiras nos lembram que estamos em uma área de conflito desde 1983.

Trincheiras na capital, Nicósia, evidenciam que a área é de conflito desde 1983

No lado turco, as ruas, mesquitas, praças e o simpático povo nos oferecem recepção calorosa. Tento explicar aos meus filhos algumas diferenças entre os dois lados e as razões do conflito, mas, ao vê-los correndo sobre os impecáveis tapetes da magistral mesquita Selimiye e provocando simpáticos sorrisos dos fiéis que ali rezavam, me dou conta mais uma vez de que animosidade, medo e preconceito corroem inutilmente a natureza humana e ofuscam nossos pontos comuns, que invariavelmente são os que realmente interessam.

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Um dos cipriotas mais famosos, Zenão de Cítio (332-264 a.C.), foi o fundador do estoicismo, escola filosófica que, há mais de dois milênios, já ensinava que os homens não temem as coisas em si, mas a forma como as enxergam.

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Ricardo Gais

Natural de Santa Cruz do Sul, Ricardo Luís Gais, 27 anos, é jornalista multimídia no time do Portal Gaz desde 2023.

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