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BAHREIN

Pelo mundo: petróleo, pérolas e profetas

Imponência: Grande Mesquita Al Fateh, o maior templo do arquipélago | Foto: Arquivo pessoal de Aidir Parizzi Júnior

Na Grande Mesquita Al Fateh, o que seria uma rápida visita terminou em uma longa e agradável conversa com o bahreinita Bader, profissional de uma multinacional que, aos sábados, realiza atividade voluntária orientando visitantes no maior templo do país. Além de teologia e símbolos, aprofundamos o debate acerca dos profetas do Islã e da relação com as mulheres. A mãe de Jesus, por exemplo, é tema de um capítulo inteiro (sura) no livro sagrado dos muçulmanos. Além de citá-la 70 vezes (a Bíblia cita Maria 19 vezes), o Alcorão a identifica como a mulher mais extraordinária que jamais existiu. Sobre as raízes semíticas comuns das três grandes religiões monoteístas, discorremos sobre os principais profetas: Nu (Noé), Ibraim (Abraão), Muça (Moisés), Issa (Jesus Cristo) e o último profeta, este só para os muçulmanos: Maomé.

Do momento em que desembarquei no moderno aeroporto de Bahrein, em Al Muharraq, antiga capital do pequeno país de 786 km² (área do município de Santa Cruz do Sul), senti a surpreendente carga histórica do arquipélago. O Reino do Bahrein fica ao norte do Catar, ligado à Arábia Saudita por uma ponte de 25 km, e compreende 50 ilhas naturais e 33 artificiais, com 83% do território na principal ilha (Bahrein), onde também fica a capital Manama. Mais da metade dos 1,4 milhão de habitantes é formada por estrangeiros, a maioria vindos de locais como Índia, Paquistão e Indonésia para construir a impressionante infraestrutura do rico país.

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Por trás da nação mais conhecida por sediar um GP de Fórmula 1, há um impressionante passado e um pujante presente. Ali viveu, há quatro milênios, a civilização Dilmun, controladores do comércio entre a Mesopotâmia e o atual território indiano. Após um milênio de múltiplas ocupações persas e árabes, Portugal invadiu o Bahrein em 1521, de olho especialmente na rentável extração de pérolas naturais. A variada arquitetura do impressionante Forte do Bahrein (Qal’at Al Bahrain) é um retrato das diferentes culturas que por ali passaram. No amplo Museu Nacional, encontrei uma exposição detalhada sobre os habilidosos mergulhadores que extraíam pérolas do fundo do mar. Do ponto de vista econômico, era uma espécie de petróleo naquele período.

Os diversos estilos do Forte do Bahrein representam diferentes culturas | Foto: Arquivo pessoal de Aidir Parizzi Júnior

Uma aliança anglo-persa expulsou os portugueses no início do século 17 e, em 1783, a família Al-Khalifa, do atual soberano, tomou o poder. O país se tornou um protetorado britânico em 1860 e a independência veio finalmente em 1971. Hamad Bin Isa Al Khalifa foi (auto)proclamado primeiro Rei do Bahrein em 2002, deixando para trás o tradicional título de Emir (chefe).

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Após passar por intensa turbulência política durante a Primavera Árabe no início deste século, os ânimos se arrefeceram e a nação tem hoje a economia que mais cresce no mundo árabe, superior aos celebrados Emirados Árabes Unidos, com quem Bahrein decidiu não se unir nos anos 70. Além dos 1,3 milhão de barris diários de petróleo, a economia é relativamente diversificada, com Manama considerada o centro bancário do Oriente Médio. Em um país desértico, sem rios ou lagos naturais e onde raramente chove, a água, obtida principalmente por dessalinização, é protegida por forte aparato militar nas enormes cisternas espalhadas pelo arquipélago.

A ligação do país com o Islã é forte e histórica. Nos arredores da capital, a Mesquita de Al Khalis foi construída em 692, comprovando que o Bahrein foi um dos primeiros países influenciados pelo islamismo. Circulei pelo local (parte em ruínas) e não encontrei outros visitantes ou funcionários. Ainda em Manama, o Museu Beit Al Quran (Casa do Alcorão) é um dos mais interessantes centros de arte islâmica do mundo. Também ali, eu era o único visitante.

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Da conversa com o dedicado anfitrião na Mesquita Al Fateh, ficou gravada a argumentação sobre o papel das mulheres na visão muçulmana. Segundo meu amável interlocutor, embora homens e mulheres sejam igualmente importantes, considerá-los como iguais em seus papéis seria um desrespeito a ambos. A questão fundamental parece não ser nosso julgamento míope e linear, mas sim a ideia fluida de respeito e importância em diferentes culturas. Como nas religiões bíblicas, há desvios de interpretação do Alcorão que geram aberrações, como a opressão das mulheres.

Outra questão sempre em voga é relativa ao conceito de guerra santa (jihad). O Alcorão se refere principalmente à luta interna de cada fiel para viver a fé islâmica. Há, contudo, uma referência à defesa da religião, como reação e com regras que, como vemos nas manchetes dos jornais, seguidamente não são seguidas. Saí do belíssimo templo sem todas as respostas, mas com a convicção de que o diálogo respeitoso e aberto é sempre o melhor caminho para tentar alcançá-las.

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