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Comitiva

Israel: Kibutzim deram origem a grandes empresas

As fazendas coletivas em Israel – os kibutzim – tiveram um papel fundamental na colonização do Estado judeu a partir de 1948. Mas ao longo do tempo mudaram radicalmente. De áreas isoladas em forma de associações socialistas encarregadas de produzir alimentos para abastecer centros urbanos, hoje a maioria funciona como organização empresarial, geralmente à beira das principais rodovias. Um exemplo disso é a Netafim, que tem centro de treinamento em Magal, a cerca de 60 quilômetros de Tel Aviv, e recebeu ontem a visita da comitiva do Vale do Rio Pardo.
Dentro dos kibutzim, muitas empresas desenvolveram sistemas que revolucionaram a agricultura. É por isso que hoje essas áreas se tornaram locais onde funcionam diversos empreendimentos. Poucas ainda trabalham no sistema socialista, e as regiões onde estão localizadas não lembra em nada a vida rural. Ao se chegar em Magal, logo na entrada, há um conjunto de casas modernas, consequência do aumento no poder econômico dos proprietários depois que os kibutzim passaram a ser lucrativos.

Israel, berço da irrigação por gotejamento

Com irrigação em grande parte das áreas agrícolas e também em áreas urbanas, Israel é o berço do sistema por gotejamento. A Netafim, que começou em 1965 no kibutz Hatzerim, atualmente distribui seus produtos em pelo menos 110 países, com 28 subsidiárias e 16 fábricas, sendo duas no Brasil – em Ribeirão Preto e Recife.
Com um crescimento anual que varia de 10% a 15%, a Netafim se expande à medida que aumenta a necessidade mundial de economizar água e produzir mais alimentos. O agrônomo Yoram Krontal, que atuou na subsidiária de Ribeirão Preto, explica que a agricultura precisa cada vez mais de inovações tecnológicas que permitam alimentar de forma mais barata as pessoas. Para isso, a irrigação controlada é fundamental – 69% da água consumida no mundo vai para a agricultura, 19% para a indústria e 12% para consumo humano.
Estima-se que ao redor de 2 milhões de agricultores já usam a tecnologia de irrigação por gotejamento. Mas, nos modelos de cultivo tradicionais, é necessário área muito maior e mais insumos para se produzir metade do que se consegue com irrigação.
Principal preocupação para a implantação, o custo varia de acordo com o período de uso e o tipo de cultura. Um pomar de citros, por exemplo, tem investimento estimado em 2 mil dólares por hectare.
A Netafim participa de todas as etapas da irrigação, desde o fornecimento dos equipamentos até a assessoria para a elaboração do projeto de implantação. No Brasil, a principal cultura que utiliza o sistema é a da cana-de-açúcar. Mas a empresa atua em três segmentos diferentes: agricultura familiar, campo aberto e estufas.

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História rara

A Netafim é um caso raro de empresa que aproxima o passado agrícola de Israel, de baixa tecnologia, ao atual, de rápido crescimento da tecnologia limpa. Ela é a maior fornecedora de sistemas de irrigação por gotejamento do mundo. Foi criada em 1965 por Sim-cha Blass. Nascido na Polônia, Blass participou das unidades de autodefesa judaicas organizadas em Varsóvia durante a Primeira Guerra Mundial. Pouco depois de chegar à Palestina, na década de 1930, tornou-se engenheiro-chefe da Mekorot, a empresa nacional de abastecimento de água, e planejou o aqueduto e o canal que levariam água do Rio Jordão e do Mar da Galileia para o deserto de Negev, no sul do País.
A ideia para a irrigação por gotejamento surgiu inspirada no crescimento de uma grande árvore no quintal de um vizinho, aparentemente sem água. Blass descobriu que ela era abastecida por um lento vazamento em um encanamento subterrâneo. Quando começou a produção dos plásticos modernos na década de 1950, ele percebeu que a irrigação por gotejamento era tecnicamente viável. Dessa forma, patenteou sua invenção e fechou um acordo com um assentamento cooperativo localizado no coração do Deserto de Negev, o Hatzerim.
A Netafim não foi pioneira apenas no desenvolvimento de um sistema inovador de aumento da produção em até 50% com o uso de 40% menos de água, mas também por ser uma das primeiras indústrias sediadas em um kibutz.

Universidade oferece programa para estrangeiros

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Uma das 30 faculdades da área da agricultura mais importantes do mundo em termos de impacto das suas pesquisas oferece programas para alunos do Brasil e de qualquer outra parte do mundo. Fundada em 1942, com 21 alunos, a Faculdade de Agricultura da Universidade Hebraica, hoje denominada de The Robert H. Smith Faculty of Agricultury, Food and Environment, tem uma divisão de estudos internacionais, com aulas em inglês para os estrangeiros. Durante a visita da comitiva que integra a missão em Israel, na manhã de ontem, o pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Ângelo Hoff, expôs o interesse da instituição pelo intercâmbio.
Professor do Departamento de Patologia e Microbiologia, Saul Burdman ressaltou que a universidade israelense tem interesse em absorver estudantes brasileiros. A forma mais viável seria através de financiamento do governo brasileiro por meio de bolsa de estudos.
Atualmente, a faculdade tem em seu campus, localizado em Rehovolt, a 20 minutos de carro ao sul de Tel Aviv com tráfego normal, 85 pesquisadores e professores e 200 professores adjuntos. Entre os 2,4 mil alunos, 1,5 mil são de primeiro título, 400 de mestrado, 250 de doutorado e 200 de Medicina Veterinária. A estrutura se divide em quatro centros: ciências vegetais, instituto de bioquímica e ciências de alimentação, ciências ambientais e as ciências animais e veterinária.
A faculdade recebeu diversos prêmios ao longo da sua trajetória. Uma das principais inovações na área da agricultura é o modelo de solarização do solo, método que utiliza a energia solar para a desinfecção da terra, cobrindo-a com polietileno transparente (plástico) para matar patógenos, sem a aplicação de agroquímicos. Aliás, a pesquisa em busca de meios para diminuir o uso de agrotóxicos e o melhor aproveitamento da água estão entre os principais focos da instituição.

Uma lavoura de morangos entre os edifícios

Em meio aos edifícios na divisa de dois municípios nas proximidades de Tel Aviv e a 15 quilômetros da praia, o cultivo de morangos é o exemplo típico de empreendedorismo rural com o aproveitamento de todos os espaços em Israel. O campo de cultivo de Efi Yossef possui 4 hectares, à beira da estrada, sem qualquer cerca para impedir invasões. Além da produção comercial para o mercado interno e exportação, a fazenda realiza a hibridização para obter novas variedades.
Formado na Faculdade de Yosef, ou seja, do conhecimento transmitido pela família, Efi explica que aprendeu do pai que a sabedoria se obtém ao olhar para a natureza. Com morangos que se caracterizam pela beleza visual e o sabor especial, afirma que a fórmula de cultivo é “muito calor e amor, mas também o canto para as flores”. Cada nova espécie gerada na fazenda até hoje recebeu a denominação das filhas do produtor ou uma homenagem a um soldado morto nos combates no Oriente Médio.
O processo de reconhecimento de uma nova variedade dura até dez anos, com o patenteamento válido por 20 anos em Israel e de 25 nos Estados Unidos. Efi Yossef afirma que essa proporção quase não vale a pena o tempo dedicado para as experiências. “Mas queremos contribuir, pois o mundo precisa sempre de alimentos melhores”, ressalta.
A produção em cada canteiro vai de novembro a maio, quando todas as plantas são removidas e o solo é revirado para novo plantio, que ocorre sobre o solo, com o uso de plásticos de proteção nos canteiros e irrigação. Cada pé produz em média 1 quilo de morangos, com a colheita de em torno de 60 toneladas por hectare, rendendo até 20 mil dólares.

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