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As diferentes formas de ser pai hoje em dia

A paternidade está longe de ser exclusiva àqueles que geraram biologicamente um filho. Por trás do título de pai, existem pessoas – sim, porque nem sempre são homens – que dão essência para esse nome, cada uma a seu modo. Tem pai que gera, pai que cria, que acolhe e que abandona. Em busca de diferentes tipos de pais, a Gazeta do Sul e o Portal Gaz sugeriram aos leitores que enviassem indicações de histórias, dentre as quais houve a seleção de quatro, que serão contadas a seguir.

Há oito anos, Jaime Luis da Rosa (foto) era um homem de 30 anos que morava com os amigos e levava uma vida de solteiro. Na época, sua irmã estava grávida de gêmeas e enfrentou uma série de complicações durante o parto, após ser transferida de Santa Cruz do Sul para Bagé, por falta de leitos. Lucimara Xavier de Melo não resistiu e faleceu antes mesmo de conhecer as filhas. No primeiro momento, a mãe de Jaime e Lucimara foi quem assumiu a guarda das meninas Júlia e Juliana Xavier de Melo, mas teve dificuldades em criá-las devido aos problemas de saúde que sofria.

Comovido e com o apoio da namorada Francieli, Jaime decidiu adotar as sobrinhas. “Elas sabem que eu sou o pai do coração ou, como elas me chamam às vezes, tio-pai”, brinca. Oficialmente, ele tem a guarda legal das gêmeas desde que elas completaram três meses de vida e Francieli tornou-se a mãe do coração, apesar de seu nome não constar no registro. “Atualmente eu e a Fran não estamos mais juntos, mas ela sempre visita as meninas e nós revezamos os finais de semana. Ambos namoramos com outras pessoas e todo mundo se dá muito bem”, relata.

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Hoje em dia, a rotina é dividida entre o emprego de vendedor e o trabalho de pai. Aos  anos, completados no último dia 25 de julho, mesma data de aniversário e falecimento da mãe, Julia e Juliana estudam no segundo ano do ensino fundamental, no Colégio Bartholomay. No turno inverso, frequentam o Lar da Menina, onde participam de diversas atividades e têm aulas de inglês uma vez por semana. Além disso, fazem patinação e devem entrar para uma turma de judô em breve. Vaidosas, recebem a visita da Gazeta do Sul sorridentes, com batons coloridos nos lábios. Durante a conversa com Jaime, elas servem croissants de chocolate e andam de um lado ao outro da sala, serelepes. As tarefas da casa são feitas pelo pai, que já está ensinando algumas coisas às gêmeas, como lavar a louça e cozinhar pratos simples.

O preparo para cuidar das meninas ele atribui à criação que teve. “Se a minha mãe não tivesse me ensinado a fazer as coisas da casa, hoje eu não conseguiria fazer tudo isso, não conseguiria ser o pai que sou”, desabafa. A atividade predileta das gêmeas é assistir a séries e filmes no Netflix. Juntos, gostam de sair para passear e pedalar com as bicicletas que ganharam de aniversário. Quando questionadas sobre como é o pai, Júlia é quem fala.  “O pai é muito querido e legal, às vezes a gente dorme juntos, às vezes só a mana dorme e as vezes nós duas dormimos juntas”, conta. Jaime se considera um pai durão e acredita que disciplina é fundamental. Juntos são uma família feliz, que transformou a tragédia em alegria.

 

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Uma carta e muitas lembranças

Natany Borges
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O Dia dos Pais em 1989 ganhou um sentido especial para o vale-solense Marino Schroeder, 65 anos. Pai de dois meninos e uma menina (Gerson, Éder e Joice), então com 15, 11 e 9 anos, o avaliador da Afubra recebeu um presente singular. Foram as palavras escritas de Éder, o “filho do meio”, que transformaram o sentido daquela data e seguem preservadas na memória desse paizão quase três décadas depois. O mimo foi uma carta e uma mensagem que transbordou compreensão.

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A história começou quando o pequeno Éder, na quarta série da Escola José de Anchieta, recebeu como tarefa  da professora a missão de elaborar um texto e entregar ao pai naquele domingo em que se celebrou a data. Hoje, com 38 anos, o operador de máquinas não lembra, exatamente, como a ideia surgiu. Mas o patriarca sabe de “cor e salteado”. “Alguns dias antes ele tinha me pedido uma bola nova, pois a antiga tinha furado. Eu até fui procurar, mas tudo estava muito caro. Voltei para casa e expliquei que naquele momento não seria possível”, relembra Schroeder.

O fato que havia gerado frustração para o pai se transformou em um gesto de maturidade do filho. “Fiquei meio triste, mas logo depois me senti feliz por você ter tentado comprar a bola”, dizia um dos trechos da cartinha. Emocionado que só ele, o aposentado Schroeder faz questão de guardar – e olha que estão intactas – as duas folhas de caderno escritas em lápis. E gosta mesmo é de contar essa história aos quatro cantos. “Hoje o Éder é pai de dois meninos lindos. E eu desejo que ele possa dar muitas bolas aos seus filhos”, diz o aposentado.

Do outro lado, Éder corresponde. “Agora eu também assumo este papel e, por mais que ainda tenha condições de conceder muitas coisas para os meus pequenos, também tenho que dizer não. Mais importante do que um presente, afinal de contas, é o amor e a intenção”, afirma. Neste domingo, o Dia dos Pais será comemorado com aquele tradicional churrasco, no interior de Vale do Sol, em Linha Formosa, localidade onde ambos residem. Por lá, as duas gerações de pais se encontrarão. E Éder poderá colocar em prática o que já havia desejado há 27 anos: um abraço bem carinhoso.

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Um legado de amor e proteção aos filhos

Maria Helena Lersch
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O espírito protetor de João Ereny Noronha, falecido há cinco meses, é lembrado pela família neste fim de semana. Uma das filhas, a professora Lenise Noronha Becker, de 53 anos, contou que as recordações mais marcantes que tem é do envolvimento e da dedicação do pai. “A mãe ficava nas tarefas da casa e o pai cuidava da gente. Eu não lembro da minha mãe me vestindo quando criança. Lembro do meu pai”, comentou ela, que morou com os pais e cinco irmãos no interior de Sobradinho, onde hoje é o município de Segredo.

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Outra preocupação de Noronha foi quanto ao futuro dos filhos e o incentivo aos estudos. “Se hoje sou professora é por causa dele e de uma tia, que era contadora de histórias e eu admirava muito. Quando criança, já brincava em um quadro de madeira feito pelo meu pai e com pedaços de giz que ganhava na escola”, conta. João deixou que Lenise, então com 9 anos, fosse morar com um tio dela, em Santa Maria, para que tivesse mais oportunidades. “Meu pai me deu um beijo quando foi embora e fingi que estava dormindo porque não queria ver ele indo embora”, lembra emocionada. A filha não resistiu muito tempo longe da família e, em dois meses, retornou para Sobradinho. Lá, morou com a irmã mais velha em uma casa cedida pela avó, localizada na cidade.

Aos 10 anos, sentiu mais uma vez a importância de um pai presente. Depois de passar mal na escola, precisou ser levada para uma cirurgia de urgência, em decorrência de apendicite. Foi Noronha, outra vez, quem cuidou dela durante uma semana de internação.

Para melhorar as condições de vida, João se mudou para a cidade de Santa Cruz do Sul, onde abriu um comércio. Mesmo após a formação, casamento e independência dos filhos, não se afastou e esteve presente nos momentos mais importantes. “Ele teve uma infância pobre e sofrida. Precisou criar os irmãos desde os 17 anos. Acredito que toda essa proteção que deu aos filhos tenha sido para compensar o que não pôde ter dos pais dele.”  Noronha morreu aos 76 anos, vítima de um câncer de pele agressivo. À filha, deixou as boas lembranças e a vontade de reviver um tempo que não volta mais.

Relato da filha

Lenise foi uma das selecionadas na promoção realizada pelo Portal Gaz e Gazeta do Sul. Confira parte do texto enviado por ela:

“As manhãs eram muito frias e a geada tomava conta dos gramados e plantações no interior do município de Segredo, a Serrinha Velha. Recordo meu pai vindo ao quarto onde dormiam juntas suas três filhas e, uma a uma, ele vestia, agasalhava bem. Em seu colo, nos levava até a cozinha, pois em frente ao fogão a lenha as cadeiras já estavam organizadas para que pudéssemos ali sentar. Então, a porta do forno ele abria para que o calor aquecesse nossos pés. Assim, meu saudoso pai com sua atenção, carinho e enorme amor nos mostrava o valor que ele tinha nas nossas vidas. Foi meu pai que chamei e foi ele que desejei que me acompanhasse quando, aos 10 anos, precisei fazer uma cirurgia de urgência.”

A mãe que também se tornou o pai

Carmem Ziebell
[email protected]

No domingo dedicado aos pais, diferente da grande maioria das pessoas, Ana Júlia Bencke homenageia uma mulher – sua mãe – que, para ela, também é pai. “Uma pessoa que não mediu esforços para criar a mim e a minha irmã Letícia”, observa a jovem de 27 anos. Com o pai morando em outra cidade, distante de seu convívio diário, Ana conta que coube à mãe, Carla Bencke, hoje com 52 anos, exercer os dois papéis para ela, o que fez “muito bem”.

Hoje a jovem não mora mais com a mãe. “Ela (a mãe) trabalhava mais de 12 horas por dia, de segunda a segunda. Mesmo assim, chegava em casa com um sorriso gostoso, cumprimentava a família e os gatos”, lembra. Com tom de voz emocionado, mas sorrindo, recorda que na chegada Carla perguntava: “cadê minha happy family?”. E sempre levava docinhos ou outro quitute, sorridente, para tentar amenizar a ausência, enquanto trabalhava, e a falta que fazia. Carla é considerada especial pelas duas jovens, mas Letícia, 17, teve mais convívio com o pai, que não é o mesmo de Ana.

Ana Júlia ressalta ainda que a mãe, muitas vezes, teve que ser dura, quando desejava o contrário, o que entende que seria o papel de um pai. Também várias vezes deixou de comprar roupas para ela, a fim de adquirir para as as filhas. “Sempre, com calma e amor, atendeu aos pedidos mais loucos, soube escutar e dar o melhor conselho”, afirma, acrescentando que Carla dedicou amor às filhas independente de qualquer coisa. “Nas folgas, em vez de descansar, nos levava para passear”, frisa.

Ana conta que na sua formatura em Engenharia Ambiental, em 2007, foi Carla quem dançou com ela. “Quando eu casar, ela é quem vai entrar comigo na igreja. Afinal, é ela quem está sempre comigo.” A mãe dela é chefe de cozinha em um restaurante e continua trabalhando tanto quanto antes, em Balneário Camboriú (SC), onde mora com a outra filha.  Há dois anos e meio Ana Júlia reside em Santa Cruz do Sul, porém nos feriadões, sempre que possível, costuma ver a mãe.

O presente pelo Dia dos Pais, já adquirido pela irmã, será acrescido desta homenagem pela Gazeta do Sul. Ana verá Carla só em 20 de setembro, mas enviará um exemplar desta edição antes.


Para Ana Júlia (à direita), Carla é mãe e pai ao mesmo tempo, papel que sempre exerceu muito bem

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