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Ideias e bate-papo

Mar de lama

A cada reportagem sobre o desastre – ou descaso? – que assolou o município mineiro de Mariana sou assaltado por uma enorme tristeza, quase depressão. O mar de lama que invadiu diversas cidades, consequência do rompimento de uma barragem de detritos de minério de ferro, acabou com todas as formas de vida. Seja humana, da flora ou fauna.

A natureza tem a incrível capacidade da eterna regeneração. Mas… e as pessoas? Dá pra imaginar o drama que estão passando? Vi uma recente matéria no Jornal da Globo sobre as inúmeras pequenas empresas, prestadoras de serviço à Samarco, que encerram as atividades, causando o desemprego de milhares de pessoas.

Tudo o que a população amealhou por toda a vida foi arrastado, devastado, destruído de maneira abrupta. As inúmeras advertências resultantes de estudos técnicos de nada serviram. A ganância, a falta de comprometimento e de humanidade e o desrespeito escancarado com a lei levaram a uma tragédia sem precedentes em nosso País. As populações foram realocadas, a partir da escolha da localização das novas residências. Muitas pessoas, abaladas emocionalmente, confessaram-se sem condições de fazer a opção.

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– Eu tenho 60 anos, nasci e morei minha vida inteira na mesma casa. Tudo estava lá: as lembranças, as fotos dos meus filhos desde o nascimento, as recordações dos aniversários e festejos… Minha vida acabou – confessou um trabalhador rural.

Tente imaginar, prezado (a) leitor (a), ser despejado abruptamente da casa onde você mora. Sem direito a pegar suas roupas, carregar as reminiscências, portar objetos afetivos e abandonar todo o manancial emocional encerrado entre quatro paredes. Sem trabalho e salário e lugar para ficar, a depressão é decorrência natural. Mesmo assim, milhares de seres humanos lutam com tenacidade pela sobrevivência.

O solo, impermeabilizado pela lama pegajosa, levará décadas – talvez séculos – para ser produtivo outra vez. Trabalhadores rurais viverão de indenizações, mas sem qualquer motivação de sobrevivência, consequência que o trabalho gera no homem. 

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O festival de ilegalidades ocorridas em Mariana de pouco servirá para prevenir novas barbaridades. Neste momento, em algum lugar, laudos são maquilados, agressões à lei são toleradas e condições para uma nova tragédia proliferam. Ignorar a lei tem sido esporte nacional com consequências devastadoras para a produção de uma geração comprometida com a cidadania.

Longe dos dispositivos legais e das assertivas éticas, navegamos num mar revolto, infestado de perigos, assolado pela lama devastadora e impune.

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