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ideias e bate-papo

Do céu ao inferno

A cada notícia que envolve escândalos de proporções nacionais, veiculada principalmente em programas de rede nacional de tevê, tento imaginar a repercussão junto aos familiares e amigos daqueles que aparecem detidos, algemados ou apenas citados como suspeitos. A vida dessas pessoas deve virar de cabeça para baixo.

 Esposa e filhos devem sofrer os impactos mais intensos. Imagine chegar à escola ou faculdade e ser apontado por todos como “filho (a) do ladrão”. Os comentários à boca nem tão pequena, as críticas veladas dentro da sala, o olhar dos professores, tudo reflete no comportamento e machuca.

 Imagine a mulher ao chegar no trabalho. Obviamente ela será alvo de acusações do tipo “bem capaz que ela não sabia que o próprio marido roubava, afinal, ele trocava de carro a cada três meses e ela viajava de jatinho com ele para todos os pontos do mundo”. A casa da praia, as roupas, as joias, até o perfume serão analisados e o nome jogado no Google para conferir o preço.

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 Esses efeitos colaterais da corrupção descoberta raramente aparecem na imprensa. Noticia-se, no máximo, sobre a depressão que assola os grandes nomes da política e dos negócios que caem em desgraça fruto de vantagens mal havidas e que estão recolhidos à prisão. Com frequência, sabe-se de presos ilustres levados ao hospital com problemas cardíacos ou necessitados de medicamentos para combater a melancolia.

A vida nababesca, de luxos, badalações sociais e amigos influentes desaparece da noite para o dia. A vida boa dá lugar à solidão da cadeia, o abandono das pessoas próximas, o jejum do celular onde abundavam mensagem de elogios, paparicações, pedidos e solicitações de facilidades para conseguir favores. O ostracismo repentino exige muita força interior.

Conheci alguns personagens abatidos em pleno voo do sucesso por denúncias de corrupção. Algumas semanas de reclusão provocam efeitos devastadores, física e emocionalmente. Um deles – lembro bem – conversou alguns minutos comigo. Não conseguia lembrar do nome porque, achei cá comigo, era uma pessoa estranha. Repentinamente, pelo tom de voz, recordei do personagem. Fiquei estarrecido com os traços de envelhecimento, abatimento e prostração.

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No Brasil, onde a cultura da impunidade perdurou por séculos, parece sempre haver espaço para arrependimentos e perdão. O cipoal de recursos legais impede a punição célere que frearia essa ânsia de se apropriar do dinheiro público. Os recursos rapinados do contribuinte ficam no bolso do ladrão, mas no final migram para os grandes escritórios de advocacia.

Tomara que a prisão de dois presidentes da República e um sem número de figurões dos mais diversos partidos sirva de ensaio para a construção de um país transparente, ético, decente e que nos encha de orgulho.

 

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