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Polícia

De quem é a culpa?

Uma das coberturas mais difíceis na área policial é a de um velório. Velório é uma cerimônia reservada, para família e amigos. E nós, desconhecidos, precisamos falar de uma dor que ainda nem foi compreendida. Por vezes, é inevitável. É a única forma de tentar, da maneira mais humana possível, contar uma história trágica. Foi assim com Endo. Um garoto morto com um tiro no rosto.

Endo tinha só 15 anos. Foi um dos gêmeos que Juraci embalou. A mesma mãe que não só chorava naquela tarde. Urrava, estremecia, perdia as forças e não podia acreditar. Endo era jovem demais para morrer. A morte de Endo é o retrato do tudo que está errado. Do nosso fracasso. Endo deveria estar vivo. Deveria estar na escola. Deveria sonhar com um futuro. Alcançá-lo. Agora jaz em uma sepultura. Mais uma. Pelo que a polícia apurou até o momento, o garoto manuseava uma arma, quando ela disparou em seu rosto. Uma arma que não deveria estar nas mãos de um menino. Mas não há testemunhas. Ninguém quer se envolver. Endo foi o 28º a morrer neste ano em Santa Cruz. Como ele, outros foram sepultados de forma prematura. E nós temos que conviver com isso. E ainda pensar que muitos ignoram isso. Não ouvem o choro de Juraci. Não choram por ela e por tantas vidas perdidas.

Aceita-se o discurso de que as vítimas tinham envolvimento com o crime e, por isso, podiam morrer. E parte tinha mesmo. O tráfico é o que o mais mata. Mas aceitar isso como normal é legitimar uma ação criminosa. É permitir que o mesmo crime continue a executar. E ganhe força. O mesmo crime que mata quem deve ao tráfico, impede um outro garoto, de 16 anos, de crescer ao lado do pai. Jair tombou ao reagir a um assalto. Jair não queria morrer. Só queria salvar o filho. Mas o crime não se importa com isso. 

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É o mesmo crime, que rouba futuros, e que ganha espaço diante da inoperância do Estado. E nós vamos fazer o quê? Sentar e lamentar? Assassinar os assassinos? Continuar aceitando que as polícias sejam tratadas com descaso? Vamos permitir que os outros garotos morram ou sejam cooptados pelo tráfico? E que tantos outros fiquem órfãos? Vamos continuar esquecendo nossas cadeias? Fazendo de conta que quem alimenta o tráfico não contribui para isso tudo? Ou vamos aceitar que a culpa é nossa como sociedade? E vamos cobrar ações verdadeiras? Não esses paliativos que só servem de máscaras para esconder os verdadeiros problemas.

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