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Direto da Redação

Complô contra a América

Como evitar o assunto Donald Trump? Sei que há questões bem mais urgentes no Brasil, como a perda de mando de campo do Grêmio, mas o resultado da eleição norte-americana adiciona nitroglicerina em um cenário mundial já explosivo. Além de toda a falta de percepção dos institutos de pesquisa e da imprensa (e a imagem de Lucas Mendes, do Manhattan Connection, dizendo “até a semana que vem, quando uma mulher será presidente dos EUA” me faz sorrir até agora), Trump, com seu discurso xenófobo radical, conseguiu tirar do armário até a Ku Klux Klan – que já está organizando uma grande “marcha da vitória” na Carolina do Norte.

Aos que pensam que a questão da identidade racial não tem peso real neste novo governo, o presidente eleito respondeu com a escolha de Steve Bannon como conselheiro sênior. Bannon é apontado – por republicanos, inclusive – como um dos líderes do movimento pela “supremacia branca” nos EUA e sua indicação foi aplaudida por David Duke, ex-líder dos encapuzados da Ku Klux Klan. E isso é só o começo.

O que me traz à memória um escritor chamado Philip Roth e um livro de ficção chamado Complô contra a América, publicado no Brasil pela Companhia das Letras. E, claro, certamente não sou o primeiro a lembrar disso neste momento. Complô é um romance de “história alternativa” que conta como seria a vida nos EUA se um candidato nazifascista, simpatizante de Hitler, fosse eleito presidente. Esse personagem, o aviador Charles Lindbergh, existiu mesmo, foi conhecido por defender posições políticas de extrema-direita e racistas, e chegou a ser cotado para concorrer à Casa Branca – mas não aceitou. Já no livro de Roth, ele aceita, faz campanha e derrota o democrata Franklin Roosevelt no pleito de 1940. Visto como um herói nacional, loiro de olhos azuis e antissemita, Lindbergh repete em discursos que os judeus são um obstáculo ao progresso do país e fala no desafio de não deixar “sangue inferior” contaminar a sociedade norte-americana.

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Os resultados de sua eleição são sinistros: judeus começam a sofrer restrições na vida pública e, aos poucos, passam a ser expulsos dos grandes centros para o interior do país – por meio das “Agências de Absorção Americana” e outras medidas batizadas com eufemismos criativos.  Quando eu li a obra de Roth pela primeira vez, há uns dez anos, pensei que se tratava apenas disso: de uma brincadeira (de humor negro assustador) com o passado. Hoje, à luz – ou à sombra – dos últimos acontecimentos, percebo que era um livro profético.

E Trump? Não parece ser um ideólogo de nenhuma espécie, mas está cercado deles – e inspira outros em várias partes do mundo. Aqui no Brasil, bem… Terminou o espaço, fica para outra ocasião.

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