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Direto da redação

O barulho das ideologias

As ideologias fazem um barulho enorme no Brasil de hoje. Por mais que se fale no fim da polarização, que “direita e esquerda não existem mais”, “o mundo mudou”, etc., não adianta: os fatos desmentem. Por ideologia caiu uma presidente da República, sob o pretexto (sim, sejamos honestos) do combate à corrupção; e por ideologia mantém-se outro presidente, ao que tudo indica, envolvido em acusações  de corrupção muito mais sérias do que sua antecessora.   

Nas redes sociais deste admirável século 21, com frequência irrompe uma fúria anticomunista que não se via desde a Guerra Fria, com sua “caça às bruxas”. Claro que o contrário também se vê: uma esquerda, em grande parte, ainda presa a referências de um modelo político superado. Há poucos dias, o deputado federal Jean Wyllis, do PSOL, foi execrado publicamente – inclusive por alguns colegas de partido – por ter feito duras críticas às ações repressivas do governo Nicolás Maduro na Venezuela. Nessas horas, “de que lado você está?” é a pergunta que costuma atrapalhar qualquer debate mais “maduro”. Rótulos infantis para quem não quer se enquadrar cegamente, como “isentão”, também são uma arma comum.    

Acompanhe-se o que costuma se chamar de “debate público” hoje em dia. O que passa por debate ainda é, quando examinado mais de perto, principalmente repetição de slogans, insinuações, apelo a preconceitos, autojustificativas, informações distorcidas ou simplesmente falsas, sermões pomposos quando se precisa de evidências e um persistente desprezo pela inteligência alheia. Em muitos casos, todos esses subterfúgios servem à defesa desta ou daquela posição ideológica. 

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Ideologias costumam ser arrogantes. Pretendem esclarecer tudo – o passado, o presente e o futuro da humanidade – com base na lógica respectiva de suas próprias ideias. Vale tanto para o comunismo clássico como ao capitalismo, que, de um modus operandi da economia, tornou-se com o tempo uma espécie de culto fundamentalista ao Deus Mercado. Querem ser uma explicação total de “como são as coisas”. E cada um desses sistemas ideológicos carrega em sua conta milhões de mortos. Sem falar no fascismo e no nazismo, com seu legado de horrores. 

Tudo isso leva a concluir, como disse o economista Eduardo Gianetti, que o pior cego é o que está convicto de que vê. Suas certezas brilham demais e ofuscam. Dê-lhe uma bibliografia volumosa para embasar suas convicções e pronto, o estrago está feito. Nos casos extremos, surgem os fanáticos querendo converter o planeta à força. Debaixo desse ruído imenso das ideologias, o mundo tem vivido há séculos. Por quanto tempo mais? Talvez nem seja possível livrar-se disso; formas e conteúdos podem mudar, mas dificilmente essa disposição humana de submeter o mundo a uma narrativa totalizante.

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