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Direto da Redação

A corrupção é nossa

Em tempos de delação premiada, em que somos capturados especialmente pelos depoimentos em vídeo, que emprestam mais contundência aos conteúdos, é difícil encontrar quem fique alheio ao assunto. Não são poucas as opiniões sobre o que está acontecendo e sobre quais seriam as formas de consertar este país e lhe garantir um futuro ao menos razoável. E nesse mar de manifestações sobre corrupção e desonestidade, uma delas pode ser considerada um clássico: “estamos nesta situação porque não sabemos escolher bem nossos representantes”. Ou melhor dizendo, “não sabemos votar”. 

Não só essa é uma ponderação razoável e com apoio incondicional; também serve de mote para campanhas de “conscientização” dos eleitores. Parece lógico: se os políticos escolhidos são ruins, basta trocá-los. Maior cuidado na próxima eleição e crescem as chances de a coisa melhorar. Eu não compartilho dessa unanimidade, embora reconheça sua boa intenção. Não acho que o brasileiro vote errado, ou não tenha consciência política, ou se deixe enganar por aproveitadores. Na verdade, votamos em quem consideramos iguais a nós, em quem verdadeiramente nos representa. Em outras palavras, não somos tão bons e honestos como pensamos.

Falando de forma direta, penso que depositamos nossa confiança eleitoral nesses corruptos e ladrões porque nos comportamos à semelhança deles, na proporção que nossas vidas permitem. Colecionamos incontáveis transgressões na vida cotidiana – no trânsito, no trabalho, nas redes sociais –, mas nos escandalizamos com as sacanagens do pessoal de Brasília. O problema é que, como insiste um pensador moderno, presença constante no YouTube, não existe governo corrupto em sociedade honesta. 

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Os mesmos que ficam horrorizados com o momento do País vivem na expectativa de obter alguma vantagem nas suas relações diárias. E quem são essas pessoas? Somos nós. Não só elegemos os políticos desonestos; eles, inclusive, saem do nosso meio. Mostrar surpresa e indignação com a transgressão – alheia –, sem avaliar seu próprio comportamento, é das nossas piores características.

A dúvida que tenho é até que ponto uma mudança de atitude na sociedade ainda seria capaz de alterar a situação política. Poucos são os que acreditam ser possível melhorar o Brasil. Parece um desejo natural, mas talvez nem ele tenha escapado de uma espécie de esgotamento perceptível em muitos de nós após tantos anos de problemas. O que não significa que se deve desistir de ter atitudes construtivas no dia a dia, pois, no fim das contas, a única força real de fato é a que vem da sociedade. Atentar para nossos “deslizes”, que sempre achamos pequenos frente à grande corrupção, mas que em essência são a mesma coisa, poderia ao menos ter o efeito colateral de melhorar nossa convivência.

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