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Direto da Redação

Redes sociais e imbecis

Pouco antes de morrer, Umberto Eco fez uma declaração e tanto: disse que as redes sociais “deram a palavra a uma legião de imbecis”. Um verdadeiro banho de água fria nesses tempos em que nada nos agonia tanto quanto um bloqueio do WhatsApp.

Sim, a frase de Eco pode parecer o ranço de um idoso com má vontade em relação ao que é novo e, por isso, incapaz de entender o fenômeno da democratização dos espaços de fala em toda a sua complexidade. Mas para mim, filho da geração digital, trata-se de uma das mais certeiras, profundas e corajosas observações sobre a atualidade.

O potencial do Twitter, Facebook e outros tantos derivados que se multiplicam diariamente é imenso. Caso tenha idade suficiente para ter vivido antes do advento dessas ferramentas, pense na dificuldade que você, cidadão comum, teria naquele tempo nem tão longínquo para expressar uma opinião ou fazer um protesto, sem filtros ou intermediários, sobre qualquer coisa que o incomodasse ou instigasse, e ser ouvido de verdade. Hoje, graças à tecnologia, essa possibilidade está a um clique de distância de todos nós, o que representa uma maravilhosa revolução  – basta lembrar que as redes já ajudaram a derrubar ditaduras sanguinárias no Oriente Médio.

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Como pode então, diante de tamanho arejamento, termos a impressão, a cada vez que deslizamos nossas timelines, de que estamos retrocedendo, nos tornando mais fundamentalistas e preconceituosos – enfim, mais imbecis? O que Eco parece ter constatado é que não são as redes sociais que estão nos mudando para pior; estão apenas revelando o que há de pior em nós.

Quando falo em imbecilidade, não me refiro a quem só compartilha selfies e memes bobinhos ou publica foto do café da manhã. Me refiro ao médico que faz postagem debochando do paciente que não sabe falar o nome da doença; de quem xinga a presidente da República de vaca; de quem vai à página de uma atriz negra para chama-la de macaca; de quem diz que a culpa de um estupro coletivo é da vítima; de quem pede que ladrão de galinha seja linchado e de quem dá risada de comentários pedófilos. Falo  de quem aplaude um deputado que reverencia torturadores; de quem torce para que o País se dê mal na organização da Olimpíada; de quem fecha os olhos quando algo pesa contra o seu partido e solta a língua para falar dos outros; ou de quem acha normal os “brexits”, os plebiscitos separatistas e os projetos de muros para repelir refugiados. Quem imaginaria que podemos ser tão insensíveis?

O Facebook não inventou a xenofobia, o racismo ou a violência. Só nos lembra, todos os dias, que isso existe, e aos montes. Talvez haja um lado positivo: trazer tudo à tona seja necessário para que possamos tomar consciência de nossos problemas e curá-los, aos poucos. Mas até lá, ao que tudo indica, muita ignorância será dita.

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