Do alto dos seus 8 anos, a pequena Maria Janaína da Silva não se mostrava nem um pouco intimidada. Ao contrário, ela parecia estar em casa em meio a um grande número de obras de artistas consagrados, como Cândido Portinari, Xico Stockinger, Anita Malfati, Aldo Malagoli, Iberê Camargo e outros “mestres da arte brasileira”, na exposição homônima em cartaz até o dia 29 deste mês, na Casa das Artes Regina Simonis, em Santa Cruz do Sul. 

As vernissages já não são mais novidade para Maria e agora fazem parte da rotina dela e de outros tantos alunos das escolas Menino Deus, Harmonia e Leonel Brizola. Desde março deste ano, eles participam da experiência-piloto do Projeto Cultura na Escola, uma parceria da Secretaria Municipal de Educação (SEE), de Santa Cruz do Sul, e da Associação Pró-Cultura.  

Atenta a cada detalhe e às explicações da professora Thaís Hohl – uma das mentoras do projeto – sobre os autores, estilos e técnicas de criação de cada um, Maria ficou indecisa na hora de escolher um dentre todos os quadros expostos. “São tantos que a gente não sabe dizer qual é o mais bonito”, suspirou pensativa. Ainda assim, não escondeu sua predileção pelo gênero e nisso foi taxativa. “Gosto de natureza morta.” 

Tamanho envolvimento com as artes plásticas em tão tenra idade é resultado de uma proposta que vai muito além das tradicionais visitas guiadas a museus e outros espaços culturais, como explica a secretária municipal de Educação, Jaqueline Marques. “Nosso objetivo é inserir o aluno no universo da arte, de modo que ele tenha uma experiência sensorial completa e de fato significativa, compreendendo o que é a arte e para que ela serve”, disse. 

Ao trabalhar previamente em sala de aula o artista e sua obra, quando entram na exposição, os alunos mostram um outro olhar. “Eles já chegam familiarizados e acabam fruindo uma experiência muito mais rica”, observou Jaqueline. Todos os meses, a Casa das Artes oferece uma programação e alunos e professores exploram juntos cada detalhe das obras, investigam o movimento, o espaço, a luz, as formas e as cores. “É bacana de ver, eles aprendem a ler na arte as concepções a respeito das questões sociais e experienciam suas três dimensões: o fazer, o fruir e o refletir”, explica a secretária.

Estudantes vão se transformar em artistas no fim do ano

Dado o sucesso da iniciativa, o Projeto Cultura na Escola deverá ser ampliado, abraçando novas turmas. Antes disso, um desafio vai mexer com a gurizada. Em dezembro será a vez de os alunos do projeto-piloto deixarem de ser apenas apreciadores da arte para virarem artistas de fato, com direito a reconhecimento público. Eles irão conceber e produzir em sala de aula suas próprias obras. Depois elas ganharão lugar nas paredes da Casa das Artes Regina Simonis, onde estarão expostas.

Para a professora Thaís Hohl, um dos grandes objetivos do projeto é o de fazer com que a arte perca um pouco do seu caráter elitista e se torne mais acessível a todas as camadas sociais. “Mostramos aos nossos alunos que o artista é um trabalhador como outro qualquer e quem faz arte faz para todas as pessoas”, disse. Que a arte caminhe, saia dos museus e vá para a escola é o que ela deseja. “A arte é um bem que todo mundo tem que consumir, não pode ficar guardada para ninguém ver.”

Arquitetura

Embora tenha como palco principal a Casa das Artes Regina Simonis, o Projeto Cultura na Escola acabou se espraiando pelo seu entorno. Isso porque quando se fala em arte, Santa Cruz do Sul é pródiga. As belezas arquitetônicas que o digam.

A Catedral São João Batista, maior templo em estilo neogótico tardio da América Latina, e o Palacinho da Praça da Bandeira, em estilo neoclássico que lembra as antigas formas dos templos gregos, hoje sede do Executivo Municipal, também entraram no roteiro da garotada. Assim como outros pontos turísticos de inestimável valor artístico e cultural para a comunidade santa-cruzense, eles deverão receber a visita dos alunos do projeto.