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Política

ENTREVISTA: ‘O pior era a pressão do MP’, diz Sérgio Moraes

Foto: Lula Helfer/Banco de Imagens

Sérgio Moraes (PL) criticou o financiamento de R$ 200 milhões anunciado pelo governo Helena Hermany

Com a experiência de quem passou oito anos na cadeira de prefeito, Sérgio Moraes (PTB) não hesita quando questionado sobre o maior desafio de estar à frente de um município: lidar com a vigilância permanente e o que considera precipitações por parte do Ministério Público – como no episódio, em 2002, em que chegou a ser afastado do cargo por uns dias. Também não pensa duas vezes em atribuir a essas situações e à pressão que recai sobre a função os problemas de saúde que enfrentou durante o governo, incluindo um infarto e um câncer.

Após despontar na cena local como líder comunitário no antigo Bairro Faxinal Velho ainda na década de 1980, quando se elegeu vereador, Sérgio tornou-se a figura política mais poderosa na região e, da Câmara, passou à Assembleia Legislativa, Palacinho e Congresso Nacional. Na Prefeitura, onde esteve entre 1997 e 2004, deixou marcas em setores como saúde – como o Cemai e a UTI Pediátrica – e turismo – como o Autódromo Internacional. Ainda alçou à política a então esposa Kelly Moraes, que se elegeu prefeita em 2008, e um dos filhos, Marcelo, hoje deputado federal.

Aposentado desde o ano passado, prepara-se para apoiar a campanha do vereador Mathias Bertram (PTB) à Prefeitura, além de outro filho, Serginho, que vai concorrer a vereador pela primeira vez.

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Entrevista

Em que momento surgiu a vontade de ser prefeito?
Eu havia sido eleito deputado estadual em 1990. Em 1992, vieram as eleições municipais e o (Sérgio) Zambiasi me disse: “Tu é candidato em Santa Cruz”. Eu disse: “Tu tá louco? Tô fora”. E ele disse que eu tinha que ser candidato porque Santa Cruz tem televisão e muita gente ia passar a ouvir falar de PTB e de Sérgio Moraes. Ninguém queria ser meu vice e ninguém queria coligar comigo. Mesmo assim, eu consegui buscar aliança com o PDT e o meu vice foi o Leonor Goldenberg. Fomos para a eleição praticamente sem nada. E quando terminou, para minha surpresa, perdi por 2 mil votos, sendo que o Arno Frantz era prefeito, o sobrinho dele (Edmar Hermany) era o candidato e eles tinham toda a máquina trabalhando para eles. Levei um susto. Tanto que naquela noite houve duas festas: uma na casa do Hermany, porque ele ganhou, e outra na minha casa.

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Em 1996, o senhor derrotou Arno Frantz. Sentiu-se intimidado por ter que enfrentá-lo?
Não senti medo em nenhum momento. Tanto que o Arno, que era deputado comigo, uma vez me chamou lá na Assembleia e disse: “Cara, não concorre, que daí eu não preciso concorrer. Vamos ficar os dois aqui na Assembleia”. Mas não senti esse medo. Eu disse: “Não tenho como voltar atrás. O que eu vou dizer para o povo na rua que tá há quatro anos me esperando?”. E aí eu ganhei a eleição.

Na largada do seu governo, houve a campanha pela UTI pediátrica. Como isso surgiu?
Antes de mim, não existia atendimento médico depois das 5 da tarde para ninguém em Santa Cruz. E eu dizia que, se fosse prefeito, ia levar saúde 24 horas para os bairros, criar um centro pediátrico 24 horas e fazer uma UTI pediátrica. Aí eu ganhei a eleição, e nós arranjamos um dinheiro. Os médicos me alertaram que, se eu fizesse por licitação, ia acabar fazendo uma péssima UTI porque ia comprar as máquinas mais baratas. Então surgiu a ideia jurídica de organizar uma arrecadação para comprar equipamentos de qualidade. E nós achávamos que íamos juntar apenas uns trocos da comunidade. Mas incendiou. Tanto que, em poucos dias, conseguimos todo o dinheiro e eu tive que ir à imprensa pedir que parassem de doar.

O que é mais difícil em ser prefeito?
Antigamente os prefeitos eram respeitados. As pessoas podiam até não concordar, mas respeitavam. Hoje, as pessoas vão para a internet e dizem o que querem. Esse é um aspecto. O segundo é que o Ministério Público fica no teu pé dia e noite, a oposição te critica o tempo todo, é uma coisa muito desgastante mesmo.

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Falando em Ministério Público, o senhor chegou a ser afastado do cargo de prefeito por uns dias em 2002. Como foi passar por aquilo?
Na verdade, eu me recusei a sair de dentro da Prefeitura. Eu bati pé e fiquei lá despachando. Houve uma mentira do promotor local, que induziu o juiz ao erro. O processo estava todo errado. E aí o Judiciário de Porto Alegre, sem que eu recorresse, me reconduziu ao cargo. Por isso, eu digo que o Ministério Público tem que parar com isso. Se tem algo errado, faz a denúncia e entrega para o juiz, não vai primeiro para a imprensa transformar o cara em um bandido.

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Qual foi o pior momento de sua passagem pela Prefeitura?
O pior era a pressão do Ministério Público em cima de mim, que era permanente, dia e noite. Em vez de ser prefeito, eu tinha que ficar me defendendo. E cometeram injustiças comigo, tanto que fui absolvido.

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O senhor, inclusive, já atribuiu problemas de saúde a isso.
O infarto que eu tive e o câncer, te dou 100% de certeza que foi por causa do estresse. Eu trabalhava das 7h30 às 10 da noite todos os dias. Eu atendia a população o dia inteiro. Sem falar no estresse da coligação, que é um inferno também.

Uma marca do seu governo é o Autódromo. Como surgiu a ideia?
No meu primeiro mandato, eu fui procurado pelo pessoal da rede hoteleira e dos restaurantes, que queriam que algo fosse criado para atrair mais turistas. Foi quando nós criamos a Festa das Cucas e trouxemos o Enart. Na sequência, criamos o parque de rodeios e o Autódromo.

E como o senhor lidou com a resistência que havia à época?
Eu tinha o compromisso de fazer o Autódromo, já tinha comprado a área, mas o PT, principalmente, era muito radical contra o projeto. Eu tinha R$ 8 milhões em caixa no fim do ano e botei R$ 300 mil no orçamento pra fazer o Autódromo. E mandei um passarinho dizer para os vereadores que eu estava apavorado, porque R$ 300 mil não era suficiente e eu estava torcendo para eles rejeitarem, porque aí eu poderia pôr a culpa neles. Eles aprovaram no fim de dezembro. No dia 1o de janeiro, assinei um decreto transplantando aqueles R$ 8 milhões para a ficha do Autódromo e dei ordem de serviço.

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O que mais orgulha o senhor nas suas gestões?
Eu quero ser lembrado por ter sido o prefeito que fez a grande virada da saúde. Na primeira campanha que eu ganhei, mostrava o povo dobrando os quarteirões de madrugada esperando atendimento. E eu entrei, acabei com as filas, fiz a UTI Pediátrica, fiz o Hospitalzinho. Essa é a minha grande obra.

E o que faria diferente hoje?
Eu seria menos brigão. Me desgastei muito brigando com gente que não merecia nem que eu desse bola. Mas eu era jovem e perdia muito tempo batendo boca. Brigava com todo mundo, com a Gazeta, com os vereadores, com os deputados. Hoje eu seria mais reservado. Mas isso não se compra na farmácia, é a idade que vai te acalmando.

Em 2016, o senhor concorreu de novo, mas perdeu.
Quando saí da Prefeitura em 2004, eu disse que nunca mais voltaria. Mas comecei a sofrer uma pressão. Primeiro botei a Kelly, aí ela ganhou uma, depois perdeu a segunda e começou a pressão em cima de mim de novo. Eu disse: “Tudo bem, eu vou, mas não quero coligação. Quero fazer um governo técnico, com pessoas capacitadas, e não ficar botando o sogro do vereador de chefe de um setor, o primo do vereador de chefe de outro”. O PSDB e o PMDB saíram do governo Telmo e vieram conversar para coligar comigo, mas eu me neguei. Sabe quanto eu gastei de mídia na eleição? R$ 30 mil.

Se voltasse no tempo, o senhor faria tudo igual?
Faria a mesma coisa. Porque olha só: a coligação em Vera Cruz terminou, a coligação em Rio Pardo terminou, olha o caos que aconteceu com a coligação em Santa Cruz, o prefeito colocando a vice porta afora. Isso é um inferno, coligação é um inferno.

Que conselho daria para o próximo prefeito?
Eu tenho conversado muito com o Mathias e digo para ele: não promete o que tu não vai cumprir. Não te vende, não troca tua honra para ganhar um voto. Segunda coisa: se combinar, cumpra. Terceiro: olha para a comunidade em primeiro lugar, não para os colegas partidários.

Quem foi o melhor prefeito da história de Santa Cruz?
Acho que fui eu. Quem fez o que eu fiz? Quem revolucionou a saúde, o turismo, fez 170 quilômetros de pavimentação? Não vai aparecer prefeito para pintar as minhas obras. Se botar na balança, fui eu, sem dúvida nenhuma.

Então vou fazer uma provocação: quem foi o segundo melhor?
Acho que tivemos grandes prefeitos. O Arno foi um grande prefeito, mas na época dele, o prefeito que patrolava uma estrada era um gênio. Quando eu cheguei, se o prefeito não tinha uma patrola trabalhando 24 horas, não valia nada. Mas o Arno realmente revolucionou. E também a Kelly, que fez o maior projeto habitacional de Santa Cruz.

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