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Saúde nas árvores

É tempo de colher peras nas ruas de Santa Cruz do Sul

Foto: Rafaelly Machado

Os irmãos Roberto e Isaura consomem as peras da Rua Oscar Jost há 40 anos, desde que as árvores começaram a gerar frutos

Os cabelos de Roberto Rogério Peiter e da irmã Isaura Hippler ainda não eram brancos quando as primeiras mudas de pereiras foram plantadas na calçada da recém-pavimentada Rua Coronel Oscar Rafael Jost, no Bairro Santo Inácio, em Santa Cruz do Sul.

A via é uma das que guarda uma história que tem mais de quatro décadas e, ainda hoje, é motivo de fartura na mesa de quem passa por ali. As peras, que estão em época de colheita, viram doces e geleias ou são consumidas cruas mesmo, em uma tradição que se renova a cada ano.

“O meu falecido pai, Oswaldo Peiter, ajudava a cuidar das frutas. Quanto elas estavam muito pequenas, ele chamava a atenção de quem tentava colher”, recorda Roberto. Segundo ele, que há mais de 60 anos mora no mesmo endereço, o plantio das primeiras pereiras ocorreu entre o fim dos anos 1970 e o início da década de 1980. Estão ali há cerca de 40 anos. Isaura mora em Santa Maria, mas visita os familiares uma vez por mês.

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Sempre que vem, e é tempo de pera – que amadurece no verão –, Isaura  leva  uma cozinhada  junto. Ela aprecia o doce da fruta (veja a receita abaixo), uma sobremesa fácil de ser preparada. “Existem dois tipos de peras plantadas nas ruas. Uma é a manteiga, que é menos firme. É ideal para geleias. Já a pera pau, que é esta aqui da rua, fica excelente como sobremesa”, recomenda.

Na tarde da última terça-feira, 9, auxiliada pelo mano Roberto, Isaura apanhou umas peras para levar para casa. A ideia era fazer o doce para a família santa-mariense. “Estes dias veio um senhor com um carro. Ele parecia ser do interior. Levou uma caixa cheia de peras”, conta Roberto, ao fazer piada com a situação. “Daqui a pouco ele vem vender as peras no Centro.”

A família explica que é comum pedestres colherem as peras da rua. Por estarem em via pública, a colheita da fruta é compartilhada em comum direito por todos que cruzam pelas calçadas. “Dá para pegar até do chão. Às vezes, quando se mexe em  um ou outro galho, os frutos acabam caindo sem que a pessoa veja”, alerta Isaura.

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De acordo com ela, para utilizar na culinária, por exemplo, basta cortar fora a parte danificada, pois o resto da fruta encontrada no chão está boa para o consumo. Mas é importante higienizar as peras que são retiradas da rua, pois estão expostas ao clima e à poluição do trânsito.

A história guardada dentro dos canteiros

A Gazeta do Sul identificou a presença de peras em pelo menos três ruas, de diferentes bairros do município. Além da Oscar Jost, na área dos bairros Santo Inácio e Avenida, a Rua do Moinho, entre os bairros Margarida Aurora e Bonfim e ainda a Avenida Paul Harris, no Centro, têm pereiras e frutas em abundância nesta época. Embora não haja nenhum registro  oficial,  o  plantio  dessas frutíferas teve início no primeiro mandato do ex-prefeito Arno Frantz,  entre  os  anos  de  1977 e  1982. 

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Segundo o jornalista  e escritor  Benno  Bernardo  Kist, integrante da equipe da Editora Gazeta, na época houve sim uma determinação do ex-prefeito Arno para que se plantassem árvores frutíferas em vias públicas, como forma de viabilizar as frutas a pessoas de baixa renda. Kist era assessor de imprensa do Município naquele período.

“Havia um especialista imigrante alemão que cuidava pessoalmente do projeto de arborização da cidade no governo do ex-prefeito”, recorda Kist.  Assim, foram plantadas em diferentes ruas dos bairros os pés de pera e,  no  Acesso Grasel, mudas de frutas cítricas, removidas com o passar do tempo.

Hoje, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade, responsável pela arborização em calçadas e passeios públicos, explica que a concepção de arborização pública mudou. Há uma visão mais integrada com a biodiversidade e a conservação do ambiente. 

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Conforme o Município, a partir da década de 1980 essa visão mudou. Os proprietários de imóveis plantavam mudas sem orientação nenhuma e desde então, começou um novo regramento para esse cultivo. A Prefeitura não tem previsão de retirar essas árvores. O Meio Ambiente faz a substituição dessas espécies por outras mais adequadas ao passeio público à medida que elas vão adoecendo ou morrendo.

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