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RICARDO DÜREN

A interpretação dos sonhos

Nossa caçula, Ágatha, teve um sonho esquisito dias atrás. Segundo relatou-me, no sonho ela arrumava o quarto quando se deparou com um pequeno sapo, sob a cama.
– Era um sapo de verdade – descreveu. – Então o colocamos em uma caixa, com buracos para que pudesse respirar. Só que ele começou a crescer e a crescer, até não caber mais na caixa. E pulou para o quintal, onde continuou crescendo. E ficou lá, enorme e completamente paralisado, como uma imensa estátua.

Só mesmo em um sonho para algo assim acontecer, a começar pela ideia de pegar o sapo e colocá-lo na caixa. As gurias lá de casa têm aversão a sapos e, quando algum aparece, dando suas saltitadas pelo quintal, sou logo acionado para devolvê-lo ao mato que faz fundos com nossa morada. Nem a Ágatha, a mais traquinas, cogita adotar um sapo como animal de estimação. Mas ficou no ar um mistério: seria o sonho da caçula o prenúncio de alguma coisa, boa ou ruim?

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Por muitos anos duvidei da crença, milenarmente aceita por tantas culturas, de que os sonhos seriam presságios. Até que, por força da minha tese de doutorado, passei a ler textos de Carl Jung (1875-1961), psicoterapeuta suíço que, assim como tantos pensadores da época, também teve livros incendiados na pira insana dos nazistas. Jung, por um tempo amigo e, depois, rival de Sigmund Freud, dá caráter científico à tentativa de interpretar os sonhos.

Em resumo, ele afirma que os sonhos são mensagens que o lado inconsciente de nossas mentes tenta, a seu modo, nos transmitir. Ocorre que o nosso inconsciente detecta muitas coisas que, racional mente, não percebemos – inclusive, perigos no ambiente. Segundo o psicanalista, se sonhamos com um acidente de carro, por exemplo, pode ser indicativo de que a tragédia realmente está para acontecer. Neste caso, o sonho seria um alerta do inconsciente para o risco de nossa imprudência ao dirigir.

Em um de seus trabalhos, Jung fala de um paciente que desenvolveu perigosa paixão pelas formas mais arriscadas de alpinismo. Certa noite, o sujeito sonhou que havia chegado ao pico de uma alta montanha. Mas então – “ooops” – escorregou e caiu lá de cima. Ao ouvir o relato, o terapeuta tentou dissuadir o paciente de suas loucas aventuras, mas o outro – certamente um alemão do tipo mulakopf – não deu-lhe ouvidos.
– Ahhrrr, das ist dumm (isso é tolice) – e foi-se montanha acima.

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Não deu outra. Despencou e ainda levou um amigo consigo. Para Jung, o sonho não fora um presságio sobrenatural, tampouco coincidência. Foi um aviso do inconsciente para riscos que o homem corria e, talvez, até procurasse para compensar desilusões em outros setores de sua vida.

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Ocorre que, na maioria das vezes, os sonhos não são tão óbvios. O inconsciente, poeta que é, dá o recado por meio de símbolos e metáforas de difícil interpretação. Outro exemplo citado por Carl Jung é de quando sonhamos com uma casa em chamas – provável indicativo de algum problema de saúde, como uma inflamação ou febre, previamente detectado por nosso lado subconsciente. A casa, via de regra, é a metáfora para o nosso corpo.

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Talvez isso explique um sonho recorrente que tenho, no qual instalo-me em uma casa grande e velha, que já teve sua imponência, mas precisa urgentemente de uma boa reforma. Pode ser indicativo para que eu retome os exercícios físicos…
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E o que dizer do sonho que a Yasmin, irmã um ano mais velha que a Ágatha, teve algumas noite atrás? Segundo relatou, ela estava em sua festa de aniversário quando, dentre os convivas, surgiu uma bruxa. A malicenta então colocou a mão da Yasmin entre seus dedos ossudos, passou a cheirar o indicador da pequena e, com uma voz rouca, anunciou:
– Hum… esse dedo parece saboroso. Mas, quando a bruxa preparava-se para abocanhá-lo, Yasmin acordou.
– Ufa… Era só um pesadelo.

Melhor assim. Que os pesadelos sejam, apenas, pesadelos mesmo. E que aquele sapão fique lá, paralisado, no quintal.

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Agora vem um merchandising. Andaram sugerindo que eu reunisse em um livro minhas crônicas sobre a Ágatha e os irmãos. Calma, pessoal. O livro dos causos da Ágatha e Cia. está nos planos para logo. Contudo, tenho outros projetos literários na fila. Um deles, em fase de arremates, é um romance inspirado em fatos reais ocorridos na região nos anos 1930. Esse sairá em breve, com o selo da Editora Gazeta. Divulgarei mais detalhes oportunamente.

Também andei reunindo, a pedido de leitores, textos publicados na coluna Crônica Policial, que assinei na Gazeta entre 2014 e 2015. Possivelmente você recorda dessa coluna. Na época, passei a pesquisar e a recontar, em tom literário, alguns dos crimes que chocaram a região no século passado e neste. Tanto me pediram, que agora desenterrei algumas destas crônicas sobre casos de polícia reais e as reuni em um livro, já disponível em uma plataforma que providencia a impressão e entrega a cada leitor. Quem quiser, pode adquirir o seu exemplar no site www.clubedeautores.com.br/livro/cronica-policial. Feita a encomenda, o livro é impresso e chega em sua casa pelos Correios. Boa leitura!

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