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O muro da decepção

Por diversas vias, os Estados Unidos tornam-se referência na rotina de qualquer cidadão, de qualquer idade e de qualquer lugar do planeta. Desde que, ali pelos 10 anos, mergulhei nos gibis do Tex, paisagens norte-americanas foram se descortinando diante de meu olhar. Cruzando as pradarias ao lado de Tex e de seus companheiros, chegando a cidades perdidas no horizonte, uma terra mágica se imprimia no imaginário. 

Por sinal, algo que sempre me chamou a atenção foi o fato de quase todas as etnias estarem representadas naquele ambiente, dos índios aos europeus, aos africanos e aos asiáticos, num mosaico culturas. Quem, naquele amálgama, poderia ser “o” americano? E lembro ainda da leitura de uma revista cujo personagem central, um pato, deve estar envergonhado com o que um seu xará está aprontando, transformando em patos milhões de embasbacados e incrédulos cidadãos.

A certa altura, aos gibis sucederam-se os livros, e a admiração pela distante América do Norte firmou-se de vez. Conheci Faulkner, Whitman, Thoreau, Steinbeck, John Fante, Kerouac, Philip Roth. Até o momento em que, inclusive pela via da música (cito um só: Bob Dylan), do teatro (Arthur Miller, Tennessee Williams),  do cinema (respiramos Hollywood) e de magos do traço, como o Charles Schulz do Snoopy e o impagável Bill Waterson do Calvin e do Haroldo, na fantasia zanzava por bairros norte-americanos. Até bradava “Yukon, hei!” com Calvin e Haroldo, magnetizado pelas lonjuras do Alasca. 

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Então veio Donald Trump.

Tudo o que ao longo de décadas se fortaleceu em termos de admiração por esse país vai sendo desdito em questão de dias. Nenhuma nação (termo confuso num mundo globalizado) hoje é autossuficiente, isso se alguma vez já foi. De maneira que, se Trump, com a arrogância típica dos debiloides, decidiu erguer um Muro que o separe do México, talvez fosse o caso de advertir que não exatamente os EUA estarão rechaçando o mundo; antes o mundo terá razões para rechaçar os EUA. Uma fronteira deve aproximar, e não excluir.

Quem ergue muro acaba trancado atrás da barreira que cria. Então, que Trump fique do seu lado do muro, prisioneiro do próprio ego, que é sempre a pior prisão. Afinal, os EUA precisam do mundo, e cada vez mais, visto que é justamente de explorar o resto do mundo que parte da presunção de Trump se forjou? Bem, e se ele acha que pode viver isolado, por que não se muda para a Lua, que é mesmo o mundo no qual vive?

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Apesar dos problemas clássicos hoje em qualquer lugar do planeta, não começamos mesmo a ter pena dos norte-americanos? Tanta riqueza, tanta cultura exportada, e elegem um presidente tão… pífio. É esse o presidente que eles merecem? Sei lá. De minha parte, confesso que fiquei decepcionado. Fico com a memória das leituras de Tex e com as peraltices do Calvin e do Haroldo. Elas me bastam. Se alguém quiser ajoelhar-se diante do Trump ou bater palmas, que fique à vontade. Mas que esse tipo de coisa não acaba bem, isso já sabemos.

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