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A aposta em uma miragem

Desde que o mundo é mundo, a humanidade cria tecnologias. Algumas muito simples. A roda, por exemplo. Foi revolucionária. O mundo nunca mais poderia ser igual depois dela. Tiramos um peso de nossos ombros. Literalmente. Ou o fogo. Sem ele não podíamos cozinhar alimentos e assar a carne, e sem isso nosso cérebro nem teria se desenvolvido a ponto de podermos raciocinar sobre tais coisas. (E nem haveria um bom churrasco.) 

A certa altura, a evolução nas técnicas de navegação permitiu que povos fossem ao mar, mapeando o planeta. Uns criaram trens e carros. Outros o avião e, não satisfeitos, a nave espacial. E a prensa (antes, a escrita), o telefone, o rádio. A tecnologia não apenas clareia o mundo. Torna-o cognoscível. Hoje, sonhamos com planetas em galáxias distantes, em torno de outros sóis, e perseguimos a tecnologia que permitirá a um humano de algum futuro século quiçá visitá-los para contar (sabe-se lá por qual via) o que encontrou.

Tudo são tecnologias, e elas sempre impulsionaram o ser humano adiante, o impeliram a conhecer, fazer, ir ver com os próprios olhos e fazer com as próprias mãos. É inerente ao ser humano a vontade de criar coisas e objetos que lhe permitam facilitar a sua vida, fazer mais com menor dispêndio de energia, e favorecer a subsistência. Claro que por vezes o impulso é bem menos nobre. Muitas tecnologias foram perniciosas, ou permitiram subjugar, escravizar, explorar, machucar. Umas favorecem a guerra e a violência. 

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Bem, cada ferramenta é uma tecnologia. Quanto mais simples, mais eficiente costuma ser. A enxada, por exemplo, é excelente tecnologia. Prática, eficiente. E ninguém veria razão em se deslumbrar com a enxada. Ela é útil. Simples e prática, como o livro. O mesmo vale para o trator. Alguém deve se deslumbrar com a lavoura e não com a enxada ou o trator. Eles são apenas uma ferramenta.

E então chegamos ao fascinado mundo eletrônico dos dias atuais. Computador, celular, tablet, notebook, toda essa parafernália são simples enxadas. E nossa rotina hoje se resume a viver e conviver em função da enxada. Já não queremos nem almejamos muito além dela, a tal ponto que o celular se transformou numa espécie de máquina caça-níquel (ou caça-desprevenidos). 

Ao contrário dos desbravadores de outros tempos, a tecnologia hoje nos reduz a uma ilusória zona de conforto, pela qual pagamos cada vez mais em nome da suposta qualidade de vida, mariposas em torno da lâmpada. Os que não conheceram o mundo de antes mais facilmente se rendem. Para estes, é tudo. 

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Se o navio, o avião e a nave levaram e levam para novos mundos, a internet sugere que traz o mundo para nós, nos entrega ele de lambuja, nas mãos. Ledo engodo. Instiga a permanecermos o máximo possível no mesmo lugar, na mesma, apenas consumindo (e na verdade somos os que são consumidos, a própria mercadoria). Se não nos motivarmos, cada um, ao movimento de resistência, de tomada de consciência, com senso crítico, é provável que para muitos a vida toda passe – ou acabe desperdiçada – em nome de uma miragem. Uma miragem que custará cada vez mais caro, e não saciará sede alguma.

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