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Estação amanhã

Sem passado não tem futuro

A maioria das ocupações humanas (se não todas) orienta-se pelo passado. Não há meta que não se paute por parâmetros, e parâmetros são encontrados no tempo. Olhando para um ponto, próximo ou distante, no passado. Ao construir a ponte em direção ao futuro, e uma vez que este não existe, a única base de apoio que temos é o passado. O ontem, a bagagem pessoal, familiar e coletiva que trazemos conosco, e que devemos levar e legar adiante. Nós estamos no meio da ponte.

Não vivemos no hoje. Vivemos no que foi feito ontem. No que sobrou. E o amanhã será o que deixarmos para quem virá. É ele, o passado, a única borda sobre a qual está fixada a ponte. Apoiados sobre a rocha do ontem é que podemos projetar a ponte rumo ao amanhã. Mas, então, por que somos tão descuidados e inconsequentes com tudo o que significa passado? Não todos, claro, mas muitos andam se revelando verdadeiros assassinos do passado, e como tal deveriam ser tratados.

Dia desses, no programa “Revista da Noite”, do Luiz Henrique Kuhn, o Ike, na Gazeta AM, o assunto foi o que a sociedade está fazendo com a memória, com o passado. Chegamos à conclusão, o Ike, a professora Lissi Bender e eu, de que, pautados por valores e prioridades imediatistas, ocupados unicamente com o hoje, estamos fazendo tábula rasa de quase tudo. O risco é de que sobre quase nada do que pode nos ligar ao passado, inclusive o mais recente.

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Entre nós, há um quase completo descaso com a memória. Vivemos um estéril e vazio agora, atualizado na tela do celular, e renegamos as lições que o passado poderia oferecer. No meio da ponte, não vemos nada para o lado de onde viemos (nem olhamos naquela direção), e nada do lado para o qual nos deslocamos, porque o amanhã igualmente não importa. A lanterna que poderíamos carregar na mão (um livro, quem sabe?) jogamos fora. E quando não valorizamos a memória parece que tudo se resume à eterna boate do próximo fim de semana, a festa do desespero.

Passado, para nós, é isto: algo para deixar para trás, algo que já não importa. Erramos de novo porque esquecemos dos erros cometidos. E, por esquecermos de tudo, também esquecemos dos acertos, que assim não trazem lição nenhuma. Os avôs levaram a vida para descobrir caminhos, mas os netos não querem saber de conversa, e assim começam tudo de novo, e quase sempre erram caminhos que os avôs enfim haviam desbravado. Seguimos em círculo, insistindo em começar errado. Logo, terminando mal.

Quando o ser humano deixa de entender a história e o passado, o que o diferencia de qualquer outro animal? Quem não valoriza o passado tende a não ter nada da própria vida valorizado pelos que virão. Quando o ontem não vale nada para nós é porque amanhã o presente de hoje também não valerá nada. Quem não valorizou os ensinamentos do avô por acaso terá autoridade para ensinar os netos? No meio da ponte, uma hora o indivíduo (e a sociedade toda) defronta-se com a maior das tragédias e a pior das derrotas: quando suas obras não são levadas a sério nem pelos que desejaria que mais o levassem a sério, os que levam seu próprio sangue nas veias.

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