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Conversa sentada

O Avenida e outros recuerdos

liz, estudar, rezar, cantar. Minha família morava onde a cidade terminava, na Tomás Flores. Pode? Só a duas quadras da Catedral? Sim, ao lado subia uma rua sem calçamento, em direção à Linha João Alves. Havia duas comunidades distintas, mas que se entendiam perfeitamente: os católicos e os luteranos (não desprezando demais crenças que não conheci na época). Havia colégios leigos, públicos; havia os católicos, havia os evangélicos. Tudo isso não fazia diferença no dia a dia das pessoas. Apenas na hora dos casamentos ditos “mistos” é que dava bronca. Em que igreja casar. Minhas duas irmãs casaram com homens protestantes, mas minha mãe não cedeu: tinha que ser na Igreja Católica. Assim foi e ninguém morreu.

Nos clubes também havia um certa tendência. Preferências fundadas no credo religioso.

Volto a repetir: na minha adolescência fiz grandes amigos de todos os credos.

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Meu pai torcia para dois times: o Santa Cruz e o Renner de Porto Alegre que, por sinal, foi campeão estadual em 1954, salvo engano, mas foi desativado logo depois. Meu pai, então, migrou para o Grêmio que, como o Renner, tinha grande preferência da alemoada. Minha mãe, não sei por que cargas d’água, cismou de ser do colorado. E passava me dando camisetas do Inter. Alguns de seus netos gremistas tentaram, de todos os jeitos, convencê-la a virar a casaca para o Grêmio. Ela dizia que não podia fazer isso, porque eu ficaria triste. Na verdade, não gostava do tricolor. Que moral a minha, hein?

Lá pelas tantas meu pai largou de torcer para o Santa Cruz e se bandeou para o Avenida, para espanto geral.

Pois Santa Cruz e Avenida fizeram um casamento passageiro, não deu certo e assim voltaram às suas identidades, um sofrendo, o outro morrendo, voltando ambos a ressuscitar, naquela gangorra da vida. 

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Eu só espiava as coisas, quase perdendo contato com a realidade esportiva de Santa Cruz. Mas essa revolução do Avenida, bem recente, começou a me interessar. E o milagre aconteceu. E veio a noite em que o Brasil inteiro assistiu ao Avenida em São Paulo. O Brasil inteiro conheceu Santa Cruz, o Brasil inteiro viu David, sem medo, dar duas pedradas no Golias para o gigante saber com quem estava falando. Golias tonteou, voltou para o vestiário, mas nosso Avenida, estafado com a viagem e com a emoção, acabou perdendo a partida só no final. O Brasil inteiro aplaudiu esse clube de valentes. Em resumo: o Avenida foi a cara de Santa Cruz! (Contra o Inter, o empate seria o mais justo.)

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