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Conversa Sentada

Seca e o vento da fome (1)

De início cumprimento o talentoso Otto Tesche pelos seus belos artigos me substituindo na coluna.

O vento da fome, na região da campanha, é o vento leste. Esse vento desgranido vem sorrateiro, espanta as nuvens e faz a grama murchar. É prenúncio de seca.

Já lá vão quase 25 anos que me envolvi, por causa da família de minha mulher, no agronegócio. Desses anos, só uns poucos não foram de seca mais ou menos grave. Numa, cheguei a falar com o Érico da Silva Ribeiro, um dos maiores produtores rurais do país, que mora na região de Pelotas, onde não houvera seca, para levar todo o meu gado em caminhões para lá, a fim de que não morresse de sede e fome. Faltando uma semana para o transporte dos animais por cerca de 400 quilômetros, choveu.

Alguns desses campos são dobrados e cortados por pequenas sangas.

Minhas invernadas são todas de mais ou menos 100 hectares. Atormentado pelas constantes secas, planejei o seguinte: qualquer que fosse o preço, cada invernada teria um grande açude. Com efeito, há uma época em que chove muito. As sangas transbordam, mas pouco depois a água vai embora. Como as áreas são “dobradas”, não é difícil achar um lugar para fazer a taipa (o dique). Há muitas empresas que têm técnica e maquinário e em poucas semanas você vai evitar que a água que vem dos cerros se desperdice.

É caro? Sim. Mas de que te adianta não ter água e os animais morrerem de sede? O bicho fica até um tempo sem comer, mas sem beber ele definha logo e é prejuízo grande. Se o pasto está fraco, existe solução: compra-se caminhões repletos de alfafa ou qualquer outro alimento e vai-se levando a vida até os campos reverdejarem ou que venham as pastagens cultivadas, dependendo da estação.

Irrigação? Num terreno de afloramento basáltico, é muito complicado. Além do que, é problemático abrir poços artesianos no Aquífero Guarani.

Irrigação por gravidade não dá. É preciso que os pivôs funcionem por eletricidade. Quanto custa tudo isso?

Pelo preço que está o quilo de boi, a gente paga os insumos, paga a folha, mas não pode dar nenhuma zebra para sobrar um pouco.

Eu mesmo só pude fazer todas as benfeitorias por causa de outras rendas e dos aportes da minha mulher. Acho que irrigação é importante: vejam o caso de Israel.

A maioria não tem capital para irrigar suas terras.

Como se diz no linguajar pampeano: “é aí que me refiro”! Voltarei a esse assunto na próxima quinta-feira.

Vamos ver se a MP do Agro vai mesmo liberar R$ 5 bilhões em crédito e redução de juros para o setor.

Tomara que beneficiem primeiro os médios e pequenos.

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