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CONVERSA SENTADA

Papos com uma netinha

Gosto muito das crônicas de Ricardo Düren, narrando as peripécias da Ágatha. Isso é muito encantador. Parece que hoje nos desacostumamos a contar historinhas para filhos e netos. A uma, porque passamos teclando; a duas, porque eles passam teclando. Aí fica difícil.

Acho que as gurias, assim como quase todas as fêmeas mamíferas, amadurecem mais cedo que os guris e são loucas de perspicazes.

Uma neta se destaca mais um pouco por ser perguntadeira. Me indagou sobre Deus, mas ouviu dizer que os humanos só têm 70 mil anos e que os dinossauros são muito mais antigos. Então Deus só surgiu quando os humanos chegaram?

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Respondi com muito cuidado que somos um grão no universo, só podendo ser visto com um aparelho muito poderoso. Então Deus não governa só nossa pequena nave, mas tudo.

Pedi então que prestasse bem atenção.

A Terra é um fenômeno raro. Deu tudo certo, tudo sopesado, tudo calculado, tudo redondo. A maioria dos animais têm dois olhos, têm coluna vertebral, e coisa e tal. A cadeia alimentar, então, é o máximo de perfeição.

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No nosso sistema solar, é bem possível que em algum planeta tenha dado zebra por atos de políticos loucos e alucinados.

– Vô, e quem fez os dinossauros?

– Espera aí. Vou te contar como é a coisa com os humanos, que são animais mamíferos.

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– Animais?

– Me escuta. Nós basicamente somos animais. Mamíferos, como já disse. Nossos irmãos bichos também têm inteligência. Eles têm sentimentos e a maioria desistiu de se comunicar pela fala. Eles têm signos silenciosos. Só emitem ruídos quando não há outra solução. Não são, portanto, umas matracas, como nós, humanos.

Já contei que lá na fazenda muitos animais, inclusive serpentes e pássaros, reúnem-se perto dos açudes para beber água. Bois, vacas, ovelhas, garças, marrecas, todos se servindo desse bem fundamental que é a água. Mal se aproxima o homem, pronto, saem todos em desabalada carreira. Salvo os bichos amestrados, os selvagens desconfiam totalmente dos humanos.

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– E por que, vô?

– Porque nós adoramos destruir coisas, comemos mesmo sem fome, derrubamos matos e florestas, brigamos muito entre nós. Nós produzimos lixo de todo tipo. Uma coruja me contou que a senhora Natureza passa tentando endireitar o homem. E dê-lhe peste negra, gafanhotos, tudo que é doença, mas o “sapiens” sempre dá um jeito de inventar um novo remédio.

– Bah! vô…

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Quem sabe nossa salvação comece com a gente ficando mais em casa, comendo frugalmente, falando bastante com filhos e netos, só um carro, muitas bicicletas.

– Vô, tu promete andar de bici comigo?

(Bah… E agora? Vou ter que me repaginar…)

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