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CONVERSA SENTADA

As casas também sentem saudade

Logo que começou a pandemia fiz como fazem os europeus, principalmente os alemães: enchi minha caminhonete de comida. E me mandei para Xangrilá. Foi uma bela providência, pois estava todo mundo com medo de que faltassem as coisas. No começo eu não usava máscara. Os prefeitos do Litoral despejavam cargas de areia na praia para evitar que carros entrassem na orla. Vieram policiais fardados para tirar os passantes. Não adiantou e ninguém morreu.

De uma semana para outra Capão, Xangri, Torres e outras menos votadas incharam. Parecia um feriadão de carnaval. Filas e filas nos supermercados. É que o pessoal foi ficando, gostou e acabou decidindo permanecer. Dois amigos meus reformaram as casas, outros compraram imóveis colocando todos os confortos que tinham na Capital ou no interior.

Passei a administração da fazenda para meu filho Rudolf. Ele trabalha no TJRS, mas vai todos os fins de semana para ver como estão as coisas. São 550 quilômetros de ida e 550 de volta. Guri novo, filho de fazendeira, deu certo.

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A casa da fazenda, portanto, está bem satisfeita.

E o apartamento de Porto Alegre, essa joia do qual vejo nosso jovem governador andando por entre as flores dos jardins?

Semana passada fez cinco meses que eu não ia para a minha torre de vigia, de onde vejo os palácios dos três poderes.

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Deu saudade e sábado fomos cedo a Porto Alegre.

Mas, sempre tem um mas. Os splits não queriam funcionar, todos os relógios de parede estavam loucos, cada um com uma hora, mas todos parados. As hidras dos banheiros, a cada descarga deixavam torrentes de água correndo sem parar. Tive que correr para achar onde era o registro e não achava. O zelador me salvou.

Me ligou um colega para uma “live” urgente. Não me lembrava mais da senha do wi-fi.

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Bueno, fomos ver o que havia no freezer. Achamos alguns congelados, mas todos vencidos.

Desci para voar até o supermercado. O porteiro estava bem mais gordinho e com os cabelos mais brancos.

Cada quarto e as salas têm sua TV. Me apressei para assistir à final do US Open. Os aparelhos tinham perdido a configuração.

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Esbaforido, sentei-me, lá estava ainda aberto o livro da Isabel Allende (Muito além do inverno), na pg 58, assim como o deixara cinco meses atrás, achando que voltaria em questão de dias.

Assim como uma criança manhosa, nossa casa, apesar de linda e faceira, fez beicinho. “Onde é que se viu (pensava ela), me trocar por uma casa a nível do solo, logo eu, charmosa, que habito entre as nuvens. Logo a mim que sou íntima da Catedral, do Palácio Piratini e do Solar dos Câmara!”

Pois é, as casas têm saudade.

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