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Medicamentos e sociedade

Existem várias maneiras de retratarmos a sociedade de nosso tempo. Em cada momento da história passamos por diversas transformações até chegarmos onde estamos. Em nossa sociedade contemporânea, principalmente na pós-modernidade, vemos cada vez mais a tecnologia da informação e as redes sociais impactarem no funcionamento das pessoas. Ao que parece, vivemos numa época de culto ao corpo e egocentrismo, com um predomínio da individualidade sobre a coletividade. Mas de que forma isso nos atinge como sociedade?

Uma forma que considero interessante é observamos quais são os medicamentos mais vendidos no Brasil, consumidos por essa mesma sociedade. Será que há alguma lógica? Saliento que são os medicamentos mais vendidos, ou seja, comprados pela população, sendo excluídos aqueles que são distribuídos gratuitamente.

É importante ressaltar que muitos desses medicamentos são vendidos sem a necessidade de receitas ou muitas vezes, mesmo precisando de prescrição médica, são vendidos sem o consentimento do médico. Mas em diversas situações, nós, médicos, prescrevemos os medicamentos incorretos ou em doses erradas para sintomas que nem sempre são doenças. E infelizmente, muitas pessoas, muitas mesmo, que deveriam estar em tratamento medicamentoso não estão, por medo, ignorância ou falta de acesso.

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Encabeçando a lista, nós temos os medicamentos para disfunção erétil. Sim. Os remédios para impotência sexual são os mais comprados pelo povo. Desde o aparecimento desses medicamentos no final do século passado, a vida sexual nunca mais foi a mesma. Casais que abandonaram o sexo voltaram à ativa. Inclusive muitas separações após os 50 anos aconteceram depois disso. Assim como paternidade mais tardia.

Em segundo lugar temos os benzodiazepinícos, mas conhecidos como ansiolíticos ou tranquilizantes. Medicamentos “tarja-preta”, baratos e de início rápido, que são utilizados (erroneamente) para tratamento de depressões, transtornos de ansiedade e insônias. Causam dependência e piora na memória, estando associados com desenvolvimento de demências. 

Em terceiro, aparecem os medicamentos que retardam ou previnem a calvície. Parece que o povo não leva muito a sério aquela velha marchinha de carnaval que dizia que era dos carecas que as mulheres gostavam mais. Em quarto estão os analgésicos e anti-inflamatórios, que buscam aliviar dores em geral, nas mais variadas idades. Por serem vendidos sem receitas, muitas vezes a causa da dor não é diagnosticada, o que acaba agravando as lesões. Podem ser usados por mais tempo do que deveria, em dose elevada ou interagindo com outros remédios causando riscos à saúde.
E em quinto e não muito atrás estão os antidepressivos, principalmente a fluoxetina. Muito utilizados para tratamento de depressão. Por aumentar o risco de suicídio, surto maníaco e agressividade, necessitam de acompanhamento médico.

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Então, se analisarmos os cinco medicamentos mais comprados nas farmácias do Brasil, veremos que em nossa sociedade não há muito espaço para angústia, dor e tristeza. A sociedade quer se manter ativa sexualmente e com cabelo. E que as pessoas buscam o bem-estar, evitando se sentir mal. Mas seria esse o melhor caminho para nos sentirmos saudáveis neste mundo contemporâneo? Provavelmente não. Mas é o que a sociedade consome e quer. Maximizar o prazer e a aparência, minimizando a dor e o sofrimento.

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