Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

Direto da redação

O valor da dúvida

Imagine que você esteja às voltas com um problema complexo. No esforço para solucioná-lo, parece razoável usar seus conhecimentos como guia, percorrendo vários caminhos que, aparentemente, vão levá-lo a uma saída. Mas o que acontece se o que você conhece, aquilo de que tem certeza, está errado? Quantas vezes vai percorrer os diversos caminhos e, no fim deles, sempre encontrar um muro? Qual seria, enfim, a melhor estratégia para resolver um problema complexo?

Em uma época em que opinamos sobre tudo, quase sempre com muita convicção, soa estranho apontar a dúvida como o melhor instrumento para destruir paulatinamente dificuldades extremas. Desconfiar do que sabemos permite olhar para outras direções em busca de uma resposta mais adequada, aceitar interpretações diversas para o problema enfrentado e mesmo comparar soluções encontradas por outras pessoas para dificuldades semelhantes. Mas mais que tudo, nos leva a fazer perguntas, e elas nos forçam a buscar outras fontes. Até podem indicar que nosso conhecimento original estava certo, mas geralmente não é isso que acontece.

Espero que você esteja duvidando de mim, então ouça quem conhece. Em um documentário dos anos 80 disponível na internet, o físico Richard Feynman fala um pouco sobre isso: “Eu consigo viver com a dúvida, com a incerteza, sem saber ao certo. Eu acredito que é muito mais interessante viver com incertezas do que ter respostas que podem estar erradas. Eu tenho respostas aproximadas, crenças possíveis, diferentes graus de certeza, mas eu não estou absolutamente certo de qualquer coisa. E sobre muitas coisas eu não sei nada.”

Publicidade

Feynman participou do Projeto Manhattan, que produziu as primeiras bombas atômicas na Segunda Guerra, e deu grandes contribuições para áreas da ciência ainda incipientes nos anos 50 e que depois ganharam importância no nosso mundo moderno. Foi, portanto, um pioneiro, ainda hoje considerado o maior físico dos Estados Unidos de todos os tempos, quase 30 anos após ter morrido. Ele fez tudo isso alicerçado na dúvida, não em certezas. Na sua área, a ciência, ela ajuda a eliminar os erros de avaliação e os preconceitos, tendências humanas que turvam a busca pela verdade. Um exemplo assim deveria inibir nosso impulso de falar sobre tudo a todo momento, geralmente na posição da autoridade que não somos.

Por tudo isso, vejo sempre a dúvida com encantamento. É o que não sabemos que nos leva mais adiante, que nos ajuda a expandir os limites do conhecimento, e não o contrário. Foi duvidando sistematicamente que descemos das árvores, nos espalhamos pelo mundo, fomos à Lua e nos preparamos para ir a Marte. Mas isso somente se nossas certezas não atrapalharem.

Publicidade

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.