Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

AGRO 4.0

Tecnologia e novos métodos melhoram resultados na produção leiteira

Foto: Alencar da Rosa

Sistema de confinamento compost barn dá mais qualidade de vida para os animais, o que representa menos doenças e mais leite

O termo “Indústria 4.0” passou a ser utilizado a partir do momento em que se percebeu a chamada Quarta Revolução Industrial, baseada na tecnologia avançada, como inteligência artificial, robótica e computação na nuvem, entre outros mecanismos. No setor primário não é diferente. Nele instituiu-se o que seria o Agro 4.0, resultado de uma série de inovações que geram maior produtividade. Na cadeia leiteira, isso também representa menor uso de mão de obra e diminuição dos espaços. E os reflexos já são percebidos nas propriedades.

O que há pouco tempo resumia-se à implementação de ordenhas mecanizadas acabou transformando-se em um espaço tecnológico, com a presença de “robôs”, que fazem acompanhamento e análise de dados do rebanho. O investimento para isso ainda é alto, mas há outras ações, que vão desde a alimentação até o bem-estar animal, com menor custo e que podem significar bons resultados – o que também incentiva a manutenção dos mais jovens na propriedade.

LEIA TAMBÉM: Produtores de leite temem pelo futuro da atividade: “Estamos vivendo a pior crise”

Publicidade

Um dos exemplos bem-sucedidos é o de Davi de Moraes Gass, em Cerro Alegre Alto, Santa Cruz do Sul. Há cerca de dois anos, o veterinário Ronaldo Luís Pagliarini, que lhe presta consultoria, indicou a adoção do sistema compost barn, que mantém as vacas lactantes confinadas em espaço coberto, com controle de temperatura e alimentação durante todo o dia. “Elas acabam saindo daqui apenas para a ordenha”, explica.

Davi Gass projeta novos investimentos

O mecanismo faz com que os animais gastem menos energia física, alimentem-se de forma mais equilibrada e consigam ter bem-estar, o que representa maior produtividade e sanidade. O equipamento mantém a temperatura estável. Durante a visita da Gazeta do Sul à propriedade, enquanto ao sol os termômetros se aproximavam dos 30 graus, na estrutura onde as vacas estavam, variavam entre 22 e 23 graus. “Depois que instalei, praticamente não foi necessário o uso de alguma medicação. Antes, aconteciam problemas nos cascos e outros”, ressalta Gass. Hoje ele busca o certificado de propriedade livre de brucelose e tuberculose, com a realização de testes laboratoriais.

O investimento, que se concentrou em construção de cobertura, instalação de ventiladores e esguichos de água no espaço onde ficam os animais, possibilitou o aumento de 40 para 72 vacas lactantes – em 1.380 metros quadrados –, fez com que a média diária chegasse a 33 litros por animal e permitiu a utilização da área onde ficavam para a lavoura de milho, que vira silagem para alimentar o rebanho. Nessa plantação são utilizados os dejetos dos animais, como adubo orgânico. O material fica armazenado em uma vala com geomembrana, conforme orientações dos órgãos ambientais.

Publicidade

LEIA TAMBÉM: Fazenda do Cedro destaca-se com leite de búfalas

A evolução tem sido constante desde 2004, quando Gass começou a atuar na bovinocultura leiteira. “Eram duas vacas como forma de incrementar a renda na propriedade, então dedicada à fumicultura”, recorda. Atualmente, o espaço está lotado e o produtor já projeta a segunda estrutura, ainda avaliando os custos, que estão elevados, e a questão dos gastos com energia elétrica, o que pode motivar a instalação de placas de captação solar.

Esguicho de água e ventiladores garantem temperatura ideal para não estressar o rebanho

Aplicativo organiza propriedade e facilita trabalho

Acabaram os dias em que o produtor anotava à mão, em cadernos ou calendários, as informações do rebanho, como a data de nascimento do animal ou quando foi feita a inseminação. Esse material poderia ser extraviado e demandava cálculos e apurações, que tomavam bastante tempo.

Publicidade

A necessidade de ter dados mais confiáveis e de forma dinâmica motivou a criação do aplicativo Gestor RP (rebanho pecuário). O idealizador é o veterinário e consultor Ronaldo Luís Pagliarini. “A partir disso, os produtores não perdem mais informações”, enfatiza.

LEIA TAMBÉM: Casal jovem dá exemplo de empreendedorismo rural

Além de servir como agendamento, o aplicativo proporciona avaliação zootécnica, cadastro de genealogia e até 30 indicadores técnicos. Para utilizar o sistema é preciso pagar mensalidade, que garante suporte e armazenamento. Se o cliente tiver algum problema no celular, o material estará arquivado em uma central. E nem é preciso acesso à internet em tempo integral. Os dados podem ser lançados e, posteriormente, quando estiver em espaço com rede, ocorre a sincronização com o que foi cadastrado.

Publicidade

Aplicativo oferece cerca de 30 indicadores

O veterinário entende que essa é uma forma de auxiliar na manutenção dos jovens na propriedade. “É difícil convencer um jovem de que deve sentar-se à mesa e escrever em um caderno o grande volume de dados da propriedade. Assim, tem tudo à sua mão”, justifica.

O secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado do Rio Grande do Sul (Sindilat), Darlan Palharini, concorda. Ele entende que um dos motivos para o problema da sucessão é a falta de tecnologia. “Normalmente, as propriedades são gerenciadas por pessoas acima de 50 anos, sem o hábito ou conhecimento desses recursos”, acrescenta.

LEIA TAMBÉM: Evolução do status sanitário coloca pecuária gaúcha em novo patamar

Publicidade

Um exemplo de que a tecnologia auxilia na sucessão é o da família Frey, em Linha Cecília, Venâncio Aires. Em 2018, eles aplicaram cerca de R$ 3 milhões em edificação e instalação com capacidade para até 140 animais – hoje são cem em lactação, com média diária de 36 litros por cabeça –, além de ordenha robotizada, com modelo compost barn. A filha de Írio e Marlene Frey, Marina, 34 anos, pretende ser a sucessora dos pais. Ela é formada em Biologia, trabalhava e residia na área central. Depois, optou pelo retorno à casa da família para dar sequência à tradição na produção leiteira. “A falta de mão de obra vinha fazendo com que meus pais pensassem em parar. Como é uma atividade que está há mais de 50 anos na família, pensei que não poderia deixar isso acontecer. Fizemos algumas mudanças para dar mais qualidade de vida e voltei”, relata.

Atualmente, conta Marina, há jovens que visitam a propriedade e se motivam a permanecer no meio rural ou a retornar ao campo. “Eles observam como a tecnologia agregou e mudou a atividade”, justifica.

Marina, Írio e Marlene Frey integram família na qual a sucessão já está consolidada | Foto: Ellen Roman

Inovação cada vez mais presente no campo

O secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini, entende que a ideia inovadora está presente no setor produtivo. “O 4.0 na atividade leiteira é uma realidade e toma conta do processo. Por muito tempo, havia a análise do animal pela questão visual. Hoje, os equipamentos verificam informações que fazem toda a diferença”, aponta. Como destaque, cita a análise da qualidade da silagem e de todo tipo de alimento, o que identifica o mais apropriado para o animal, de acordo com o clima.

Palharini vê o Rio Grande do Sul acompanhando o desenvolvimento tecnológico de outros estados produtores, mas percebe que o material de ponta está em grandes propriedades, o que não é praxe entre os gaúchos. De acordo com levantamento da Emater/RS-Ascar, o Estado conta com cem robôs em propriedades, possibilitando ter acesso à rastreabilidade, controle de sanidade, questão de temperatura corporal do animal e ciclo de lactação, entre outros indicadores.

LEIA TAMBÉM: Laticínios elevam valor da cesta básica em Santa Cruz

A tendência, avalia, é de concentração, com maior quantidade de animais por propriedade. Para ele, quem vende 50 ou cem litros por dia acaba parando ou sentindo a necessidade de ampliar o rebanho. Isso deve fazer com que o número de economias direcionadas à cadeia leiteira diminua, sem que caia a produção. O Estado tem 40 mil produtores. Com modelos como o compost barn, aumenta a produtividade, diminuem espaço e trabalho. “É fundamental o controle e lucratividade para garantir a viabilidade, e a tecnologia é a grande aliada.”

Na área atendida pela regional Soledade da Emater/RS-Ascar, que inclui Santa Cruz do Sul, houve uma redução de produção de 11,76%, de 170 milhões para 150 milhões, entre 2019 e 2021. Ainda assim, demonstra ampliação nos resultados por propriedade, porque o número de produtores dedicados ao setor baixou 23%.

A evolução muito além dos equipamentos

Quem opta pelo pasto para alimentação animal também percebe progresso. “Demanda um espaço maior, mas já se tem condições de rotatividade de área, garantindo bom desempenho”, ressalta Darlan Palharini. Ao mesmo tempo, há o melhoramento das forrageiras, como é o exemplo das variedades BRS Capiaçu e Kurumi, distribuídas pela Emater, em Venâncio Aires. “Os produtores estão multiplicando as pastagens e aprovando os resultados”, afirma o extensionista rural e engenheiro agrícola Diego Barden dos Santos.

A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) também atua na produção de mudas de forrageiras. “Podemos dizer que fomos pioneiros na multiplicação do BRS Kurumi. Desde 2014, a Afubra é licenciada pela Embrapa para multiplicar esse cultivar”, ressalta o gerente de produção agroflorestal da Afubra, Juarez Iensen Pedroso Filho. Dois anos depois, a Embrapa lançou novo cultivar de capim-elefante, o BRS Capiaçu. O viveiro da Afubra também habilitou-se a comercializar as mudas.

“A parceria entre Afubra e Embrapa tem sido uma forma de difundir tecnologias inovadoras e apropriadas para o desenvolvimento da agropecuária, nesse caso, bastante específica na área de pecuária”, enaltece. Os cultivares disponíveis, Kurimi, Jiggs, missioneira gigante, Tifton 85, amendoim forrageiro, Hemarthria e Capiaçu, são plantados por meio de propagação de mudas, sem a possibilidade de adquirir sementes. Pedroso entende que essa é uma forma de reduzir os custos com a produção. “É necessário planejamento forrageiro ao longo do ano para ter oferta contínua”, alerta.

LEIA TAMBÉM: Importância do agronegócio em tempos de pandemia é debatida em evento

É o que faz Marcos André Thiesen, que divide as atenções entre a fumicultura e a produção leiteira, em Cerro dos Chilenos, interior de Vale Verde. Ele utiliza variedades Capiaçu e Kurimi, conseguindo manter alimentação para o gado durante todo o ano. “O Capiaçu brota muito rápido. Quando termino de cortar de um lado, já posso começar no outro”, enfatiza. Ele tem meio hectare com a forrageira, utilizada para aplicação diretamente aos animais ou para incluir na silagem.

Outra forma adotada, que garante bem-estar para o rebanho, é a prática silvipastoril, a qual possibilita o consórcio de pastagem e a plantação de eucaliptos. “Assim as vacas ficam na sombra, com bastante água”, explica. Thiesen consegue obter 9,5 mil litros de leite por mês, com suas 18 vacas de raça mestiça lactantes. Tem espaço de dois hectares, onde elas ficam no dia a dia, quando não estão entre as árvores.

Variedade BRS Capiaçu tem a brotação rápida como um dos seus pontos positivos

LEIA TAMBÉM: Alimentos da agricultura familiar abastecem penitenciárias da região

Quer receber as principais notícias de Santa Cruz do Sul e região direto no seu celular? Entre na nossa comunidade no WhatsApp! O serviço é gratuito e fácil de usar. Basta CLICAR AQUI. Você também pode participar dos grupos de polícia, política, Santa Cruz e Vale do Rio Pardo 📲 Também temos um canal no Telegram! Para acessar, clique em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.